Governo pede a assessores da venda da TAP que reavaliem dispersão em bolsa

Apesar de ser um modelo que não reúne consenso, o executivo quer estudar todos cenários de privatização da transportadora aérea com base nos resultados financeiros de 2013.

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Fernando Pinto, presidente da Comissão Executiva da TAP Miguel Manso

O Governo pediu aos assessores que estão a apoiar o Estado na privatização da TAP para reavaliarem o cenário de aumento de capital da transportadora aérea através da dispersão em bolsa. Apesar de o modelo não ser consensual, o executivo quer testar todos as possibilidades antes de tomar uma decisão definitiva sobre a venda da companhia. O pedido foi feito em Janeiro, ao mesmo tempo que foi solicitada uma actualização financeira do valor da empresa, com base nos resultados de 2013.

A indicação dada ao Citibank, Barclays Capital, BESI e Crédit Suisse foi articulada entre o Ministério das Finanças e o Ministério da Economia, tutelas que estão a liderar este processo, através do secretário de Estado das Finanças, Manuel Rodrigues, e do secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro. O PÚBLICO confirmou que, além de actualizarem a avaliação financeira da TAP, os assessores foram mandatados para estudar a possibilidade de recorrer ao mercado de capitais, numa operação que permitisse ao Estado manter uma posição relevante na empresa.

A fundamentar este cenário está a necessidade de aumentar o capital da transportadora aérea e, com isso, injectar dinheiro fresco na TAP, que, de acordo com as regras comunitárias, está impedida de receber auxílios do accionista Estado. Apesar de a companhia ter reduzido a dívida nos últimos meses, continua a necessitar de investimento. O modelo de dispersão em bolsa já tinha sido analisado em meados de 2013, mas foi descartado. No entanto, o Governo quer tirar todas as dúvidas.

Além disso, não parece haver dentro do executivo um consenso em relação ao modelo de privatização da transportadora aérea. Apesar de existir uma inclinação para a venda directa, que também é partilhada pela administração da empresa, este cenário não é considerado o mais acertado por todos os membros do Governo. O fracasso da primeira tentativa de privatização da TAP, com a rejeição em Dezembro de 2012 da oferta feita por Gérman Efromovich, e o sucesso da alienação de 70% dos CTT em bolsa têm alimentado a possibilidade de vender parte da companhia no mercado de capitais.  

A jogar a favor da alienação directa a investidores está o facto de não haver, na indústria da aviação, um histórico de operações de venda em bolsa. Além disso, acredita-se que a TAP necessita de accionistas de referência com experiência no sector. No entanto, até agora, as abordagens feitas por potenciais candidatos não passaram daí, sem garantias de que possam concretizar uma oferta pela companhia. E o Governo não avançará para a privatização sem ter a certeza de que será um processo competitivo a esse nível.

À espera de candidatos
Tal como o PÚBLICO noticiou, uma das abordagens partiu do antigo dono e presidente da Continental Airlines, Frank Lorenzo, que em Outubro esteve reunido com a administração da TAP para obter mais informações sobre a empresa. O encontro contou com a presença de Miguel Pais do Amaral, que também está a estudar esta privatização. Haverá mais potenciais interessados, nomeadamente do sector da aviação. Um deles é Gérman Efromovich, que ainda não desistiu do negócio e tem criticado o atraso no relançamento da venda da transportadora aérea.

O executivo tem dado sinais de que pretende reiniciar o processo este ano, para dar cumprimento a mais um dos pontos do memorando de entendimento assinado com a troika. No entanto, o presidente da TAP acredita que este “talvez não seja o melhor momento para a privatização ocorrer”. Numa entrevista ao jornal brasileiro Folha de São Paulo, publicada no domingo, Fernando Pinto considera, porém, que a companhia continua “atractiva”, acrescentando que cabe ao Governo “avaliar o momento do mercado para decidir”.

Os resultados da TAP relativos a 2013 ainda não foram divulgados, mas dados a que o PÚBLICO teve acesso mostram que, até Setembro, a participada para a área da aviação alcançou lucros de 8,5 milhões de euros, invertendo os prejuízos de 9,7 milhões registados no mesmo período de 2012. Já a dívida diminuiu 6,8% para 802,9 milhões. No entanto, estes números não incluem outras subsidiárias do grupo, como a deficitária unidade de manutenção no Brasil, que, apesar da melhoria de resultados, vai voltar a contribuir negativamente para as contas.

Esta segunda-feira, a companhia informou que movimentou 772 mil passageiros em Janeiro, o que significou um aumento de 9% face a 2013. No primeiro mês do ano, a subida foi mais expressiva no aeroporto da Madeira, onde o tráfego cresceu 16%. Em termos de mercados, Estados Unidos e África destacaram-se, com incrementos de 26 e 13%, respectivamente. Em 2013, a TAP movimentou 10,7 milhões de passageiros, o que representou um aumento de 5% face ao ano anterior.
 
 

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