Sissi já tem um adversário nas presidenciais egípcias

Hamdeen Sabbahi é jornalista, poeta e líder da Corrente Popular Egípcia. A sua candidatura apela aos jovens e aos "revolucionários".

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Hamdeen Sabbahi ficou em etrceiro lugar nas presidenciais de 2012 Reuters

O chefe das Forças Armadas do Egipto, marechal Abdel Fatah al-Sissi, não será o único candidado nas presidenciais egípcias, que deverão realizar-se este ano mas ainda não têm data marcada. O político veterano de esquerda Hamdeen Sabbahi anunciou no sábado à noite que vai disputar o lugar.

O anúncio da candidatura provocou uma sucessão de consequências internas. Mas os analistas internacionais sublinharam uma como a mais importante — a decisão de Sabbahi credibiliza as eleições, que corriam o risco de ter apenas um candidato e se tornariam, assim, num referendo a Sissi.

As primeiras declarações de Hamdeen Sabbahi sugerem que será um candidato verdadeiro, não apenas uma figura decorativa nas tais presidências-referendo a Sissi. “Espero que a minha decisão seja do agrado dos jovens e que responda às suas exigências”, disse, apelando a uma importante fatia do eleitorado, os jovens e os “revolucionários”, a massa mais contestatária da sociedade que foi fundamental na revolução de 2011 que derrubou Hosni Mubarak e a que, no ano passado, exigiu a deposição do primeiro Presidente eleito, Mohamed Morsi.

Graças a estes dois grupos de eleitores, Hamdeen Sabbahi — que além de político e dirigente da Corrente Popular Egípcia é jornalista e poeta — conseguiu ficar em terceiro lugar nas presidenciais de 2012, à frente de candidatos que eram à partida mais populares, por exemplo Amr Moussa.

Sabbahi foi um dos mais ferozes críticos de Morsi, que acusou de perpetuar a desigualdade e o autoritarismo que marcaram as mais de três décadas de presidência Mubarak. Apoiou o movimento Tamarod, cujos protestos aceleraram a queda de Morsi — defendeu a intervenção do Exército caso este não se demitisse —, e depois da deposição deste Presidente entrou para a Frente de Salvação Nacional, coligação que deverá ser extinta depois da escolha de um novo chefe de Estado.

A sua candidatura fracturou o Tamarod e a Frente de Salvação Nacional, com uma ala (ainda maioritária) a apoiar Sissi e a outra a ver em Sabbahi o melhor candidato para cumprir os desígnios da revolução.

Sissi ganhou popularidade (e um culto de personalidade) ao ser projectado como o heróiu militar que derrubou Morsi. Provoca muitas dúvidas dentro e fora do Egipto, um país que fez uma revolução em nome das liberdades mas vai eleger um novo Presidente com milhares de presos políticos — a Irmandade Muçulmana, o movimento a que pertence Morsi, foi ilegalizada (foi mesmo equiparada a uma organização terrorista) e os seus dirigentes e muitos apoiantes estão presos. Mohamed Morsi, esse está a ser julgado por incitamento à violência e morte de civis na repressão das manifestações.

Os dois candidatos conhecidos por enquanto às presidenciais prometem um Egipto novo e que corresponda aos desejos do povo que derrubou Mubarak e Morsi. Do ponto de vista ideológico, ambas as candidaturas — sendo que Sissi tarda em oficalizar a sua, que já tem a aprovação dos chefes militares — têm pontos de contacto. Sabbadhi e Sissi dizem ser herdeiros do nacionalismo do carismático (e autocrata) Presidente Gamal Abdel Nasser. Pouco mais se sabe dos seus objectivos que começarão a ser conhecidos durante a campanha eleitoral, que arrancará mal sejam marcada a data da votação.

Resta saber que tipo de campanha terá este Egipto governado por uma equipa ministerial interina, por militares e pela Junta de Salvação — a Corrente Popular Egípcia anunciou que dois dos seus membros foram presos numa cidade do Norte do país estarem a colar cartazes de Hamdeen Sabbahi. 

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