Duas amigas de vítima do Meco mostram mensagens mencionando fim-de-semana de praxes

Declarações surgem numa altura em que o único sobrevivente, João Gouveia, já foi ouvido pela Polícia Judiciária, tendo mantido a versão inicial de que foi um acidente e que não estavam a decorrer praxes.

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As amigas estranham a forma como os bens das vítimas foram separados e que Joana Barroso estivesse sem os seus óculos Enric Vives-Rubio

Quase dois meses depois da morte dos seis alunos da Universidade Lusófona, que foram levados por uma onda no Meco, duas amigas de Joana Barroso, uma das vítimas, quebraram o silêncio e mostraram mensagens escritas que trocaram e onde se fala de um fim-de-semana de praxes.

As declarações das duas amigas surgem numa altura em que João Gouveia já foi ouvido pela primeira vez pelas autoridades. Interrogado pela Polícia Judiciária na quarta-feira, o dux terá mantido, segundo o Correio da Manhã, a versão inicial de que tudo não passou de um acidente e que não estavam a decorrer quaisquer praxes, tendo antes sido surpreendidos por uma onda quando estavam a conversar perto da zona de rebentação.

Porém, Alícia, uma das amigas de Joana, em declarações à TVI, garantiu que a aluna sabia que ia ser praxada e mostrou as mensagens escritas trocadas a 3 de Dezembro de 2013, dia em que perguntou a Joana se estaria em Lisboa no fim-de-semana de 13 e 14 de Dezembro. Joana respondeu que iria de fim-de-semana de praxes com o Conselho Máximo das Praxes da Lusófona.

"Praxados pelo mamute"
Em resposta, Alícia brincou dizendo: “Que chique”. Mas Joana contrapôs: “De chique não tem nada sermos praxados pelo mamute e mais outros mamutes”. A amiga da vítima explicou, depois, que “mamute” era o nome de código que usavam para se referirem ao dux, João Gouveia, o único sobrevivente das pessoas que se sabe terem estado na praia do Meco na noite de 14 de Dezembro.

Filipa, outra amiga de Joana e antiga aluna da Universidade Lusófona, também à TVI, mostrou uma mensagem que trocaram no dia do incidente. Depois de ter perguntado se a amiga estava em Lisboa, recebeu uma resposta negativa acompanhada da frase “estou a ter fim-de-semana da praxe”.

Tanto Alícia como Filipa garantem que Joana sabia que seria praxada naquele fim-de-semana, mas duvidam que soubesse que iria ser sujeita a eventuais actividades mais arriscadas. Até porque, segundo Alícia, Joana conhecia bem o mar e respeitava os seus riscos. Já Filipa assegurou que ambas tinham medo das praxes na universidade e que Joana já teria desabafado que estava farta das mesmas.

Alícia e Filipa foram também as amigas que, a pedido dos pais, receberam os bens de Joana logo na segunda-feira após a sua morte. As raparigas dizem que a Polícia Marítima lhes deu um contacto do suposto cunhado de João Gouveia e que os bens seriam devolvidos na Lusófona. Contudo, dizem estranhar a forma como tudo foi tratado, já que as coisas de cada um dos seis alunos estavam separadas por nomes e questionam como é que João Gouveia sabia exactamente o que era de cada um dos colegas, assim como é que teve esta capacidade logo após a tragédia. Além disso, dizem que dentro da mochila de Joana estavam os seus óculos e que a amiga via bastante mal ao longe, pelo que estranham que não os tivesse levado para a praia.

Dux ouvido como testemunha
Na sua inquirição pela PJ na quarta-feira, João Gouveia terá sido ouvido apenas na qualidade de testemunha e, tal como o PÚBLICO tinha avançado, não é provável que venha a ser constituído arguido apenas para participar na reconstituição do que se terá passado na noite de 15 de Dezembro.

Fonte da PJ confirmou ainda ao PÚBLICO que, ao contrário do que tinha sido avançado por algumas testemunhas no local aquando da chegada dos corpos à praia, os mesmos não tinha vestígios de fita adesiva nos tornozelos atando as calças. As autoridades encontraram sim partes rasgadas da capa e do traje dos estudantes que terão sido confundidas com fita adesiva por testemunhas.

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