O mar já lambe as torres de Ofir, mas não há risco iminente para quem aqui vive

Passeio que separa edifícios da praia cedeu, mas a estrutura dos prédios não está em risco, garante a Câmara de Esposende.

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As torres foram construídas na década de 70, no cordão dunar de Ofir Renato Cruz Santos
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Os acessos das torres à praia foram danificados pelas marés das últimas semanas Renato Cruz Santos
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Apesar do mau tempo, algumas pessoas teimavam em apreciar o avanço do mar em Ofir Renato Cruz Santos
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O vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente admitiu que uma intervenção em Ofir não estava nos planos da APA Renato Cruz Santos

O passeio que separa as torres de Ofir da praia cedeu parcialmente. A praia, essa, já tinha cedido há semanas, durante a tempestade Hércules que, dizem por aqui, lhe roubou, em altura, uns dois metros e meio de areia. Sem obstáculos, o mar, que se agigantou neste Inverno, já lambe os prédios onde apenas 12 famílias vivem em permanência. Mas as autoridades garantem que, ainda assim, os edifícios plantados na década de 70 sobre as dunas não estão em risco.

Abrigada da mole de jornalistas que se juntou no Café Conchinha a olhar para um mar tempestuoso, e protegida das rajadas de vento que fustigavam esta tarde o litoral de Esposende, Maria Vale, Porteira do edifício C das Torres de Ofir não escondia alguma preocupação pelo que ali levou esta quinta-feira tanta gente.  O Atlântico andou a fazer das suas, levou a areia que, “coitados, andaram a pôr aqui no Outono”, mas ela não acredita que as torres estejam para vir abaixo. Nem os proprietários, explica. “Se o senhor visse os apartamentos remodelados, as obras que se fizeram nos espaços comuns, nos últimos anos”.

As torres de Ofir, que um dia o então ministro do Ambiente, José Sócrates, admitiu deitar abaixo, face ao risco de virem a ser engolidas pelo mar, parecem resistir às previsões mais pessimistas. É certo que a dinâmica da costa não pára de surpreender as autoridades; É certo que o esporão que foi colocado a sul destes edifícios tem sido danificado pela ondulação, como assumia o presidente da Câmara, Benjamim Pereira aos jornalistas. Mas, neste momento, o que a autarquia, em conjunto com a Agência Portuguesa do Ambiente, deverá fazer é uma intervenção de reforço estrutural da sapata que suporta o passeio que separa os prédios do areal e, muito provavelmente, uma nova acção de reposição de areias naquela que é uma das mais conhecidas zonas balneares do Norte do Pais.

Enquanto lá fora o mar parece querer crescer a ponto de vir a inundar a esplanadas, uma das fotografias ampliadas que decoram o café Conchinha mostram duas sargaceiras em esforço, a atravessar um extenso areal, ali mesmo. Eram mais de cem metros, recorda Benjamim Pereira, assinalando que todo o litoral de Esposende, e principalmente a norte da foz do Cávado, nas freguesias de Antas, Belinho, Mar e Marinhas, sofreu, nas últimas décadas um processo de erosão que, nalguns casos, transformou areais em praias de seixos rolados.

Em todo o caso, o próprio autarca relativizou a questão das Torres, lembrando que, à época, a sua localização não causou a estranheza que hoje seria normal. Os quase 200 apartamentos existentes nos três edifícios continuam a ser utilizados, maioritariamente como casa de férias dos respectivos proprietários, e Benjamim Pereira nota que agora dificilmente haveria dinheiro para indemnizar tanta gente. E além disso, assinala, fazendo uso da sua formação em engenharia e arquitectura, “se aqui houvesse uma intervenção requalificadora, bem feita, as torres poderiam tornar-se icónicas”.  

O vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Alexandre Simões, chegou ao local pelas 17h, inteirou-se, como o vento e chuva lhe permitiu, da situação, e admitiu que terá de preparar, com a autarquia, uma intervenção que não estava prevista no plano nacional para orla costeira. Abafada por casos mais extremos como os do Furadouro e Costa da Caparica, a situação das Torres e da praia de Ofir quase passaria esquecida não fosse o mar, afoito como está, teimar em encher o peito mais do que o habitual. Obrigando o Estado a ocorrer, de Norte a Sul, para preservar as condições de vida das populações que vivem a seus pés.

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