Homem amputado voltou a sentir objectos com mão biónica

Mão biónica ligada aos nervos de homem que ficou sem a sua mão há nove anos. Pela primeira vez, um amputado pôde sentir a rugosidade e o tamanho de objectos.

Dennis Aabo Sørensen só teve a mão biónica durante um pequeno período de tempo
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Dennis Aabo Sørensen só teve a mão biónica durante um pequeno período de tempo EPFL
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A mão biónica LifeHand 2/Patrizia Tocci

O movimento de uma mão é o resultado de informação vinda de duas direcções. Por um lado, o nosso tacto dá-nos a conhecer o que a mão está a sentir. Por outro, o cérebro interpreta esta informação e comanda os movimentos da mão de acordo com a nossa vontade. É assim que sabemos quando estamos a apertar com demasiada força uma garrafa de plástico. Também por isso é tão difícil criar uma mão para pessoas amputadas que replique este sistema complexo.

Mas uma equipa internacional criou a primeira mão biónica que fez um homem amputado voltar a sentir. Para isso, quatro eléctrodos foram implantados, por cirurgia, nos nervos do braço de um dinamarquês que há nove anos ficou sem a mão esquerda. A novidade foi publicada num artigo da revista Science Translational Medicine.

“O feedback sensorial foi incrível”, diz Dennis Aabo Sørensen, 36 anos. “Pude sentir coisas que não sentia há nove anos”, explicou, citado num comunicado da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça. O dinamarquês perdeu a mão quando estava a manusear fogo-de-artifício, durante um feriado. Quando o acidente aconteceu foi imediatamente levado para o hospital, onde lhe amputaram a mão.

Desde aí tem uma mão prostética que detecta o movimento muscular no que resta do braço, o que permite à mão artificial abrir-se ou fechar-se para agarrar objectos. “Funciona como o travão de uma mota”, explica Dennis Aabo Sørensen. “Quando se aperta o travão, a mão fecha. Quando se relaxa, a mão abre.”

A nova mão biónica assenta num sistema muito mais complexo que imita o que se passa na natureza. A equipa europeia de Silvestro Micera, que trabalha na Escola Superior de Sant’Anna, em Pisa, Itália, fabricou uma mão com sensores que detectam informação sobre o toque. A partir de algoritmos, os cientistas conseguiram transformar a informação de toque dada por estes sensores em impulsos que podem ser interpretados pelos nervos sensoriais. A sensação de toque é codificada em informação que atravessa cabos finos e chega a quatro eléctrodos.

Em Janeiro de 2013, Dennis Aabo Sørensen fez uma cirurgia em Roma, onde foram colocados aqueles quatros eléctrodos, nos nervos que ainda tinha no braço esquerdo. Passados 19 dias de testes médicos, a mão biónica foi ligada a estes eléctrodos. Os eléctrodos, ultrafinos e muito delicados, foram colocados de uma forma muito precisa para se conseguir passar sinais eléctricos muito fracos directamente para o sistema nervoso do doente.

Depois, vendado e com auscultadores para o isolar do som, Dennis Aabo Sørensen tocou em vários objectos e conseguiu sentir a força com que estava a agarrá-los, além de perceber a forma e a consistência do que agarrava: “Quando agarrava um objecto, sentia se era macio ou duro, se era redondo ou quadrado.”

“Esta foi a primeira vez em neuroprostética que o feedback sensorial foi restaurado e utilizado por um amputado em tempo real para controlar um membro artificial”, explica Silvestro Micera, em comunicado. Os próximos passos, para se conseguir um objecto comercializável, passam por miniaturizar a electrónica que permitiu este avanço e aprimorar a sensação de toque.

Para Dennis Aabo Sørensen, que passado um mês teve de retirar a nova mão biónica por questões de segurança impostas pelos testes clínicos, a experiência foi importante: “Fiquei mais do que contente por me voluntariar para este teste clínico, não só por mim, mas também para ajudar outros amputados.”

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