Museu do Chiado: uma ampliação para pôr fim a uma situação provisória com mais de 100 anos

A Secretaria de Estado da Cultura e os ministérios das Finanças e Administração Interna assinam na quarta-feira um protocolo que vai permitir ao Museu Nacional de Arte Contemporânea crescer. Novos espaços deverão abrir ainda este ano.

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Mário Eloy é um dos pintores portugueses mais celebrados da colecção do Museu do Chiado Daniel Rocha

A ampliação do Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) – Museu do Chiado é tema que tem ocupado sucessivos governos. Muitos tentaram, aliás, concretizá-la desde que em 1911 ocupou as primeiras salas no edifício em que ainda hoje se encontra, o do Convento de São Francisco, no centro da cidade.

Passou mais de um século, o museu foi conquistando algumas salas e foi até reinaugurado em 1994, depois de uma renovação conduzida pelo arquitecto francês Jean-Michel Wilmotte, mas nem por isso deixou de motivar diversos ministros e secretários de Estado da Cultura, que nos últimos dez ou 15 anos defenderam que viesse a ocupar espaços do convento afectos à Polícia de Segurança Pública (PSP) e ao agora extinto Governo Civil de Lisboa.

É precisamente o crescimento do MNAC que o actual secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, quer garantir com o protocolo que assina na quarta-feira com os seus colegas dos ministérios das Finanças e Administração Interna, Maria Luís Albuquerque e Miguel Macedo. O documento, a que o PÚBLICO não teve ainda acesso, prevê que o museu seja alargado a vários espaços que até aqui estavam devolutos ou pertenciam à PSP e ao Governo Civil, mais do que duplicando a sua área expositiva, solução já defendida por anteriores tutelas. O que é que faz Barreto Xavier acreditar que terá sucesso num projecto em que outros falharam, quando tinham também acordos de cedência com outros ministérios?

“Este protocolo não é uma declaração de intenções, é um acto formal de passagem deste espaço para a tutela da Cultura”, explicou ao PÚBLICO, antecipando a cerimónia desta manhã. O MNAC ocupará novos espaços em vários andares do edifício, ganhando 3300 metros quadrados e uma “entrada monumental” com uma grande escadaria, a que anteriormente pertencia ao Governo Civil, ali bem próxima do largo do Teatro Nacional de São Carlos.

“Não é só espaço que o museu vai ganhar, mas uma outra relação com a cidade através da entrada nobre”, continua Barreto Xavier. “Vamos finalmente ter um Museu do Chiado com a dimensão que ele precisa para trabalhar”, dando-lhe a “visibilidade que merece como museu nacional que é”.

Para além dos constrangimentos orçamentais – o MNAC, como os restantes museus públicos funciona sem orçamento de programação – que vêm já de governos anteriores, salienta o SEC, e que têm vindo a agravar-se, o Chiado enfrenta sérios problemas de espaço que não lhe permitem, garante ainda Barreto Xavier, fazer uma boa articulação entre as exposições temporárias e a permanente. Uma situação que é ainda mais prejudicial porque a sua principal missão é mostrar aos visitantes a arte portuguesa desde 1850 à actualidade, algo que mais nenhuma outra colecção pública faz.

Depois de os espaços do convento serem adaptados às suas novas funções – algo que deverá ser feito “o mais breve possível” por “arquitectos da casa” (da Direcção-Geral do Património Cultural) – o MNAC poderá mostrar peças da colecção da Cultura, que tem mais de 700 obras de arte de qualidade variável, segundo Barreto Xavier, que estavam dispersas há décadas e que o SEC decidiu incorporar no museu em Julho.

As salas que o museu ganhará agora, também destinadas ao serviço educativo e a novas áreas de reservas, deverão abrir ainda este ano. Dentro de duas ou três semanas, Barreto Xavier conta anunciar também o novo mecenas do Chiado, que deverá ter um papel decisivo no reforço da programação do museu.

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