PJ examina diário de uma das vítimas do Meco para perceber responsabilidade de cada estudante na praxe

Registo pertence a uma das quatro estudantes que morreram no incidente. Famílias já foram ouvidas pela PJ.

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Tragédia ocorreu na madrugada de 15 de Dezembro, na praia do Meco Enric Vives-Rubio

A equipa da Polícia Judiciária (PJ) de Setúbal encarregada da investigação à morte dos seis estudantes no Meco está a examinar o diário de uma das vítimas. Aquele documento, apurou o PÚBLICO, é de uma das quatro estudantes que morreram e alguns dos seus excertos devem possibilitar um melhor entendimento sobre a função que cada jovem tinha na Comissão Oficial de Praxes Académicas (COPA) da Universidade Lusófona.

As suas últimas narrações deverão ainda possibilitar a descrição mais próxima dos preparativos para o fim-de-semana no Meco e esclarecer se mais estudantes participaram naquele fim-de-semana. Esses jovens podem ser a chave para reconstituir aquela noite.

Antes de qualquer reconstituição no local, a PJ tenta assim perceber o que aconteceu antes da tragédia, ocorrida na madrugada de 15 de Dezembro passado e que resultou na morte de quatro raparigas e dois rapazes. Apenas um jovem de 23 anos, João Miguel Gouveia, o dux da COPA, sobreviveu.

Os investigadores confiam que algumas confidências contidas no diário deverão também esclarecê-los quanto à estrutura hierárquica que o COPA mantinha, eventuais divergências entre os seus elementos e a relevância de cada um na cadeia de comando.

Contactado pelo PÚBLICO, o advogado das famílias das vítimas, Vítor Parente Ribeiro, disse desconhecer a existência do diário, um facto confirmado por um dos pais. Até agora, apenas tinha sido revelada a existência de uma folha A4 que resumia a logística necessária para aquele fim-de-semana, nomeadamente em relação à alimentação e às alcunhas que cada estudante tinha nas actividades de praxe.

Dux mantém-se em silêncio
João Miguel Gouveia continua em silêncio. Fonte da PJ explicou ao PÚBLICO que não existe ainda qualquer data para a sua inquirição, nem para a reconstituição forense daquela noite na praia. Certo é que a investigação mudou de ritmo quando passou a ser dirigida pelo procurador coordenador Moreira da Silva, do Ministério Público (MP) de Almada, que delegou parte das diligências na PJ.

A mudança alterou também a estratégia de investigação. A PJ tenta agora recolher o máximo de vestígios e de testemunhos antes de partir para a reconstituição e para a inquirição de João Miguel Gouveia. Os familiares das vítimas já foram ouvidos, tendo alguns entregue aos inspectores telemóveis dos estudantes e documentos sobre as praxes. Os investigadores tentam, desta forma, munir-se do máximo de elementos com os quais possam confrontar o sobrevivente.

Fontes policiais explicaram ao PÚBLICO que não é provável que o dux venha a ser constituído arguido apenas para participar na reconstituição. Pode ser interveniente como testemunha, como serão alguns vizinhos da casa em Aiana de Cima, Sesimbra, alugada pelos estudantes para aquele fim-de-semana. Gouveia pode, porém, requerer o estatuto de arguido, que lhe permite manter-se em silêncio.

Apesar de vários cenários – entre os quais homicídio por negligência – continuarem em aberto, a verdade é que a linha de investigação que tem sido mais reforçada pelas diligências até agora efectuadas não aponta para qualquer responsabilidade criminal do sobrevivente. Embora essa hipótese pareça remota, os investigadores continuam a tentar despistar semelhante possibilidade.

Nomes de outros jovens
Os familiares, soube o PÚBLICO, querem entregar ao MP os nomes de outros jovens da Lusófona que se disponibilizaram para testemunhar no processo. Aqueles estudantes contactaram os pais das vítimas através do email criado para recolher informações sobre o que se passou naquele fim-de-semana e os seus depoimentos deverão trazer alguma luz sobre a eventual existência de violência nas praxes. Em causa estão jovens que já passaram por rituais semelhantes e poderão explicar os seus contornos.

Foi também por isso que as famílias requereram na segunda-feira ao Tribunal de Almada a sua constituição como assistentes. Se o juiz de instrução criminal diferir o pedido, passarão a colaborar com o MP sugerindo diligências a fazer. “É isso mesmo que pretendemos. Colaborar para que se esclareça o que aconteceu. Às famílias interessa a descoberta da verdade”, disse Vítor Parente Ribeiro. Até agora o email criado pelos pais das vítimas já recebeu mais de 400 mensagens.

À saída do tribunal, Fátima Negrão e Fernanda Cristóvão, familiares das vítimas, garantiram que não estão a “fazer uma investigação à parte” e que vão continuar a apelar ao dux para contar o que se passou. “Estamos a fazer o nosso trabalho de casa”, disse Fátima Negrão. Com Mariana Oliveira
 
 
 
 
 

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