Pais de vítimas do Meco querem juntar-se a outros familiares de vítimas de praxe

Um grupo de estudantes está a organizar uma vigília em frente à Universidade Lusófona contra as praxes nas instituições de ensino superior, enquanto decorre uma petição pelo fim daquela tradição académica.

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Miguel Manso

Os familiares dos seis jovens que morreram no Meco depois de terem sido levados por uma onda têm como objectivo entrar em contacto com familiares de vítimas de praxe académica, para se unirem de forma a que “este assunto [das praxes] seja falado e definido de uma vez por todas”, afirmou ao PÚBLICO António Soares, o pai da jovem de 22 anos, Catarina Soares.

No comunicado conjunto que as seis famílias enviaram à comunicação social esta terça-feira lê-se que, “com o objectivo de contribuir para que acontecimentos similares não voltem a ocorrer, estão a ser recolhidas e tratadas todas as informações disponibilizadas por familiares de vítimas de situações similares.”

António Soares recorda que o Bloco de Esquerda já tentou legislar sobre este assunto mas que nada avançou. Pode ser que este “infeliz momento possa levar a que este tipo de situação não volte a acontecer e se acabe com as praxes. Uma coisa é integrar os estudantes, outra coisa é rebaixá-los e desumanizá-los até ao limite.”

As famílias agradecem ainda as cerca de 300 mensagens já recebidas no email criado especificamente para a recepção de mensagens relevantes sobre o ocorrido dia 15 de Dezembro – tragedia.meco@gmail.com. Dizem que a grande maioria são de apoio, mas também têm "informações da maior relevância para o apuramento dos factos ocorridos”, que irão ser direccionados para as entidades competentes, refere o pai.

Confirmando uma intenção que já tinham manifestado, os familiares decidiram constituir-se assistentes “para assim poderem colaborar com os processos de averiguações em curso visando apurar os factos ocorridos”. Esta figura permitirá aos familiares estar a par do que se passa nos autos e pedirem, por exemplo, a realização de diligências.
António Soares refere que confiram na justiça portuguesa mas que, caso seja necessário, “recorrerão às instâncias internacionais”.

Por fim, o comunicado reforça que não estão “contra pessoas ou instituições” e convidam “mais uma vez, a vítima sobrevivente e respectiva família para se juntarem a nós no apuramento dos factos e na contribuição para acções futuras.”

Um grupo de estudantes está a organizar uma vigília em frente à Universidade Lusófona de Lisboa contra as praxes nas instituições de ensino superior, enquanto decorre uma petição pelo fim daquela tradição académica, reporta a Lusa.


"Contra a praxe, não ficaremos em silêncio" é o nome do Manifesto Estudantil Anti-Praxe de um grupo de alunos, que está a organizar uma vigília para dia 22 de fevereiro, em protesto contra os abusos que são cometidos contra alguns estudantes.

Em declarações à Lusa, Diana Antunes, aluna do mestrado em ensino da Música, da Universidade de Aveiro, explicou que a iniciativa partiu de um grupo independente de alunos de diferentes instituições que acreditam que a "Universidade seria melhor sem praxe".

"A Universidade que queremos não se rege pela hierarquia cega, pela constante humilhação, pelas práticas e os cânticos machistas, racistas, xenófobos ou homofóbicos como é tão recorrente na maioria das praxes. A tradição académica que reivindicamos é a da liberdade, a do pensamento crítico, a dos movimentos de estudantes que, noutras épocas, substituíram a praxe por coisas mais úteis e muito mais interessantes", lê-se no manifesto.

Os alunos estão a apelar à participação na vigília através de uma página no Facebook -- "Vigília na Lusófona pelo princípio do fim das praxes académicas" -- que conta já com a confirmação de mais de uma centena de pessoas.

A escolha do local para contestar a praxe é "simbólico", explicou Diana Antunes, referindo-se à morte dos seis alunos da Lusófona e às suspeitas de estarem envolvidos rituais de praxe académica.

Além desta iniciativa, está a correr também na internet uma petição pública "Pelo fim das praxes académicas" que, ao início da tarde de hoje, contava já com mil assinaturas. Dirigido aos cidadãos, reitores das universidades, ministros, Presidente da República e Presidente da Assembleia da República, a petição defende que as praxes são "uma espécie de bullying consentido por toda a sociedade, tendo como finalidade única a humilhação de quem a elas se sujeita".
"Esta petição vem assim pedir o fim das praxes académicas; a punição civil e criminal a quem implementar qualquer espécie de praxe que não respeite o aluno enquanto ser humano e a responsabilização dos órgãos competentes em cada universidade por todo e qualquer dano provocado por qualquer espécie de praxe", lê-se no documento disponível em http:/peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT72219.
 

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