Excluir não é incluir

Exclusão e excelência não são palavras da mesma família.

Excluir não é incluir. Pelo menos não o é daquilo que se exclui. É assim que podemos compreender a natureza dos gráficos apresentados por Nuno Crato no Parlamento. Se há algo de que este Governo não pode ser acusado (pelo menos no que toca às questões de Ciência), é de ausência de estratégia. Há quem a tenha designado cientificídio.

A ideia (disseram-nos) era aprimorar a excelência. Pelo meio percebemos a exclusão de uma geração preparada ao mais alto nível. O que recusamos na vontade de sermos muito exclusivos, outros, mais excelentes do que nós, integram. Talvez esteja aqui a confusão que convém explicar ao MEC: exclusão e excelência não são palavras da mesma família. A própria velocidade da integração do que se exclui pode servir para entender o que perdemos.

Para quem tem seguido a evolução da FCT, o episódio das bolsas era expectável. Foi o culminar de um conjunto de peripécias que se prolongam há mais de um ano. Alguns dos elementos agora expostos eram conhecidos ao tempo dessas reuniões. As consequências eram iminentes, apesar das chamadas de atenção. Os discursos são assim; nem sempre quem os enuncia consegue perceber todo o enunciado. Os termos, mesmo em língua inglesa, também têm "pitfalls". Para conhecer é preciso pensar, articular... e para investigar é preciso tempo e estabilidade.

Apesar do repúdio generalizado às declarações do ministro da Economia, ainda existe nalgum inconsciente colectivo a ideia de "investigação inconsequente". Porém, a importância fundamental da Ciência como um lugar especulativo, não em termos de mercados e patentes, mas de ideias e pensamento, conseguiu um espaço que é fundamental cultivar.

Dir-se-ia que Portugal está a amadurecer. Conseguirá fazê-lo tanto ou quanto mais as gerações qualificadas possam desenvolver o seu trabalho e descobrir de que forma podem transformar uma sociedade, que alguém pensou ser de Fim da História (a falha Fukuyama). Pela Europa, os mesmos fundos que financiaram a ciência portuguesa contribuíram para construir uma geração de doutorados e pós-doutorados que tentam encontrar o seu caminho. Alguns (nomeadamente via programas como o Marie Curie) fazem já parte de uma realidade internacional de escala global. Seria mau para a Ciência reduzir-se à realidade das elites 1%. A esperança resta naqueles que continuam a esforçar-se por ir além do statu quo, arriscando o pensar e o fazer. Sempre foi deles o futuro; saibamos não os excluir do presente.

Professor do Instituto Politécnico de Tomar e membro da Direcção do SNESup
 

 
 
 
 
 

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