Pobre sindicalismo

O que mais ofende é não haver solidariedade contra a empresa que nos desiludiu.

O nosso número de telefone fixo foi herdado (obrigados, PT!) de uma residência geriátrica que há muito mudou de nome e de número.

São os únicos telefonemas que recebemos: "É do lar Raio de Sol?". A Maria João diz que não, que é de uma casa particular, mas adianta o novo nome do lar. Vem logo a contra-pergunta, impaciente e irritada: "tem o contacto?"

Os portugueses reagem mal à entreajuda. Se dissermos que um Multibanco está avariado, abespinham-se e exigem saber qual é o mais próximo. Levamos com a ira dirigida à máquina, ao banco e à vida em geral.

Têm o dom de desviar a ira, de forma a atingir o alvo mais à mão. Para já, não gostam que haja quem saiba mais do que eles (que o MB pifou) mas, mais importante ainda, não gostam de fazer figura de parvo, imaginando que o nosso pensamento secreto quando os vemos a aproximar-se é "olha-me só este idiota deste fussanga, de cartão na mão, a pensar que vem sacar uma narta..."

Mais vale não dizer nada, deixá-los verificar que a máquina está avariada e esperar que sejam eles a denunciar a avaria. Nem se importam que digamos "pois, connosco também não deu...", como quem agradece imenso ver oficialmente confirmada uma suspeita pessoal e mal informada.

O que mais ofende é não haver solidariedade contra a empresa que nos desiludiu. Os portugueses preferem desunir-se para se distinguirem do que unir-se para mostrar o que têm em comum. Nunca há nós. É sempre você e eu. As empresas agradecem.
 
 

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