Quatro explosões no Cairo na véspera do aniversário da revolução de Tahrir

Os atentados de sexta-feira foram reivindicados por um grupo egípcio inspirado na Al-Qaeda. Comemorações do terceiro aniversário da queda de Mubarak poderão trazer mais violência

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A maior explosão ocorreu junto a quartel da polícia MAHMUD KHALED/AFP

Uma série de quatro explosões abalou o Cairo, esta sexta-feira, causando a morte de, pelo menos, seis pessoas. No caso mais grave, um carro-bomba matou quatro pessoas, feriu dezenas, danificou a fachada de uma sede da polícia e abriu uma cratera, no centro da capital.

As explosões visaram todas elas alvos policiais e ocorreram na véspera do terceiro aniversário da revolta popular que levou à queda do antigo ditador Hosni Mubarak, em 2011. Uma outra bomba explodiu no sábado junto a uma academia policial no Cairo, sem causar vítimas. Mas a expectativa é a de que o dia poderá trazer mais violência, dado que facções políticas opostas convocaram demonstrações: o Governo interino, controlado pelo exército, apelou à população para vir para a rua celebrar o fim de três décadas de poder absoluto de Mubarak, ao passo que a Irmandade Muçulmana apelou a manifestações de protesto contra o afastamento e detenção do ex-presidente Mohamed Morsi, eleito democraticamente no Egipto pós-Mubarak. Confrontos na capital e em outras cidades entre apoiantes de Morsi e as forças de segurança egípcias causaram a morte de 14 pessoas na sexta-feira.

Um grupo inspirado na Al-Qaeda e baseado na Península do Sinai – um laboratório de insurgentes e foras-da-lei que as autoridades egípcias têm tido dificuldade em controlar – reivindicou a autoria dos atentados de sexta-feira numa mensagem divulgada em fóruns jihadistas na Internet. Nela, o grupo recomenda aos muçulmanos que se mantenham longe de instalações da polícia e das forças de segurança. “Fazemos imensos esforços para evitar ferir muçulmanos”, lê-se na mensagem, citada pela AFP.

No ano passado, o mesmo grupo, Ansar Bayt al-Maqdis (Apoiantes de Jerusalém), clamou responsabilidade pela tentativa falhada de assassinato do ministro do Interior egípcio.

Os atentados contra as forças de segurança aumentaram no Egipto nos últimos meses, após o derrube, pelo exército, de Mohamed Morsi em Julho de 2013. O novo poder tem reprimido de modo sangrento os partidários da Irmandade Muçulmana, organização a que pertence o antigo chefe de Estado, que está detido. Mais de um milhar de islamistas pró-Morsi foram mortos por forças policiais e militares nos últimos sete meses; milhares de outros, entre eles destacados dirigentes, estão nas cadeias.

O Governo egípcio anunciou que responderá com "firmeza" a tentativas de "sabotar as cerimónias" do aniversário da revolta popular iniciada a 25 de Janeiro de 2011, que culminou com a queda de Mubarak 18 dias depois, a 11 de Fevereiro.

Na quinta-feira, cinco polícias foram mortos por dois homens armados num posto de controlo na província de Beni Suef, a sul do Cairo.

O actual Governo, bem como grande parte da imprensa egípcia, acusam a Irmandade Muçulmana, entretanto considerada "organização terrorista", de estar por trás dos atentados  As autoridades apertaram o cordão de segurança à volta de Cairo por antecipação ao aniversário da revolução que teve o seu epicentro na Praça Tahrir. No sábado de manhã, polícia e exército marcavam uma forte presença nas ruas da capital e helicópteros sobrevoavam a baixa da cidade.

Mohamed Saleh, um taxista de 63 anos, disse à Reuters que planeava comemorar o aniversário da revolução indo até Tahrir, mas a praça encontrava-se selada por veículos blindados no sábado de manhã.  

 

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