Ianukovitch anuncia que vai remodelar Governo

Remodelação será decidida na sessão parlamentar extraordinária de terça-feira. Grupos de manifestantes ocuparam edifícios governamentais em vários pontos do país. Paris e Berlim convocaram os respectivos embaixadores ucranianos.

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Manifestantes concentrados durante a noite SERGEI SUPINSKY/AFP

O Presidente da Ucrânia, Viktor Ianukovitch, revelou esta sexta-feira que pretende remodelar o Executivo, de acordo com a agência Interfax. A decisão será tomada durante a sessão parlamentar extraordinária da próxima terça-feira e que foi acordada com os partidos da oposição. Em cima da mesa vão estar também as alterações às leis que restringem as manifestações.

"Iremos tomar a decisão durante a sessão", afirmou Ianukovitch, durante um encontro com organizações religiosas. "O Presidente vai assinar um decreto e iremos reformatar o Governo de forma a encontrar uma versão óptima do alinhamento profissional do Governo que irá trabalhar para a sociedade ucraniana", acrescentou. Ianukovitch manifestou igualmente abertura para alterar o pacote legislativo aprovado recentemente que impõe restrições aos protestos.

Durante a madrugada, manifestantes tomaram de assalto o ministério da Agricultura da Ucrânia, na principal avenida de Kiev, segundo fontes concordantes entre si,ouvidas pela agência AFP. O falhanço na obtenção de um acordo entre os partidos da oposição e o Presidente causou decepção entre os manifestantes, que exigem a demissão do Governo.

Para além da tomada do ministério, outros edifícios governamentais foram ocupados por grupos de manifestantes. Em Lviv, no oeste do país, um grupo de 200 pessoas passou a noite num edifício da administração regional, segundo a AFP. Também foram ocupados edifícios administrativos em Rivné, Ternopil, Khmelnitski e Tchernivsi. Na quinta-feira ao fim da noite, foi tomado um edifício em Tcherkassi e cinco mil pessoas ocuparam dois andares de uma administração regional em Ivano-Frakivsk.

Os incidentes acontecem depois de uma quinta-feira em que os ânimos acalmaram no centro de Kiev. A perspectiva de um acordo entre a oposição e Ianukovitch e a promessa de uma sessão parlamentar extraordinária para discutir a demissão do Governo pareceu ter evitado uma escalada da violência. Um dos líderes da oposição, Arseni Iatseniouk, considerou que havia “fortes possibilidades” de “pôr fim a um banho de sangue”.

A expectativa em relação a um acordo entre Presidente e oposição era grande, mas a reunião de quinta-feira trouxe poucos progressos. "Horas de conversações foram gastas para nada", afirmou o líder do partido Udar, Vitali Klitschko, após o encontro com Viktor Ianukovitch. "Não faz sentido sentar à mesa de negociações com alguém que já está decidido a enganar-nos", acrescentou o ex-pugilista, citado pela BBC.

Foi a promessa de um acordo, que passaria pela demissão do Governo e pela revogação das leis anti-protestos aprovadas recentemente, que trouxe alguma calma às ruas de Kiev. Antes de as negociações de quinta-feira serem iniciadas, os líderes dos partidos da oposição pró-europeia apelaram às tréguas nos confrontos. No entanto, ao início da noite, quando se tornou claro que Ianukovitch pouco tinha recuado, a decepção na Praça da Independência foi visível, deixando antecipar um regresso à violência.

Durante a madrugada, um edifício governamental foi tomado por um grupo de manifestantes. O edifício do ministério fica a cerca de cem metros da praça da Independência, lugar central dos protestos de manifestantes pró-europeus contra o Governo, que se prolongam desde final de Novembro – quando foi anunciada uma maior aproximação entre a Ucrânia e a Rússia. Entretanto, as motivações dos protestos sofreram alterações, com o alvo a ser a própria classe dirigente ucraniana, levando à constante reivindicação da demissão do Governo.

Nos últimos dias, os confrontos causaram a morte de cinco pessoas.

“Os militantes do movimento Spilna Sprava (Causa Comum) acabam de ocupar o edifício do ministério da Agricultura”, escreveu o líder do grupo, Olexandre Danyliouk, na sua conta no Facebook.

Danyliouk escreveu que após as negociações que, na quinta-feira, o Presidente Viktor Ianukovitch manteve com líderes da oposição, “tornou-se claro que devemos preparar-nos para a prometida ofensiva” - alusão à “ofensiva prometida há dias pela oposição. “Já começámos”, acrescentou.

Paris e Berlim convocam embaixadores
Ainda na quinta-feira, também segundo a AFP, milhares de manifestantes invadiram as representações do Governo em várias regiões do ocidente da Ucrânia. Em Lviv, o governador local, Oleg Salo, apresentou a demissão por escrito, mas, mais tarde, disse que agiu sob pressão dos manifestantes.

Noutras regiões manifestantes entraram nas representações do poder central. Foi assim em Ternopil, vizinha de Lviv, em Rivna, Jitomyr e Khmelnitsky. A sul de Kiev, na região de Tcherkassy, milhares de manifestantes queimaram mobiliário das instalações da administração central.

A tensão em Kiev tem feito soar os alarmes nas capitais europeias. Os embaixadores ucranianos em Paris e Berlim foram chamados pelos respectivos Governos, que lhes querem dar conta da condenação dos seus países em relação à repressão policial dos últimos dias.

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, convocou esta sexta-feira o embaixador ucraniano para demonstrar a "condenação por parte da França" dos acontecimentos em Kiev, segundo a AFP. O chefe da diplomacia francesa afirmou estar "inquieto e indignado" e criticou a actuação do primeiro-ministro ucraniano, Mikola Azarov. "O mínimo que se pode dizer é que ele não se mostrou positivamente nos últimos dias, uma vez que viram que ele deu ordens para disparar sobre as pessoas, o que é evidentemente inadmissível", afirmou Fabius.

Berlim quis demonstrar "a posição do Governo alemão contra a utilização da violência" e encorajar um "exame do pacote de leis contra os direitos dos cidadãos", revelou um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Na quinta-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, já havia afirmado estar "muito preocupada, mas também revoltada com a forma como as leis estão a ser manipuladas até colocar liberdades em questão."

Notícia actualizada às 15:53 - Referência à remodelação do Governo anunciada por Ianukovitch.

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