The Refugee Project: Um Atlas da migração humana forçada!

Desde que me lembro, o continente africano nunca decepcionou na oferta de conflitos armados. Quase todos os anos há um ou vários, tantos que “a guerra em África” já faz parte do folclore do continente berço da humanidade. Não faz muito tempo que fui surpreendido, num daqueles saraus que frequento do lado de cá de Gibraltar, carregado de treinadores de bancada interessados em questões universais, com a questão “O que se passa na República Centro-Africana?”. Fiz suspense e respondi “Depende do olhar de quem coloca a questão”. Certo da interrogação que seguia, rematei logo de seguida, sem pestanejar, “Depende da cegueira de quem coloca a questão”.

Não sinto que seja um disparate afirmar que a relação que África tem com a pólvora é violentamente pornográfica. Há séculos que vivemos de pau em riste, insaciáveis. Independentemente do número de ejaculações, temos sempre apetite. Há sempre balas para despejar e, como o que não falta é carne para canhão, fico com a sensação de que não há nem lágrimas nem sangue que chegue para nos saciar a tesão. É Ilona Stalle, é Garganta Funda, é pornografia mesmo.

Eu queria dizer que a pólvora é uma vadia, uma oferecida, uma Maria vai com todos, mas esses adjectivos não lhe fariam justiça. Ela não é exclusiva de ninguém, disso a gente sabe. Sorri para todos e, se não fosse a coquete que nos habitou a ser, diria que até tem as suas preferências; aparentemente prefere lugares quentes, com gentes de pele escura, cuja fé em diferentes profetas e messias é razão de discórdia e cujas terras guardam ou minerais valiosos ou aquela mistura complexa de hidrocarbonetos que faz o mundo girar. Muitos dizem que está ao serviço da evolução e do progresso, ainda que os efeitos destes sejam difíceis de identificar por baixo dos escombros, do rasto de destruição que deixa para trás. Imaginamos a dor e nos espantamos com os números de pessoas despojadas de tudo – família, terra, humanidade.

Foi na tentativa de saber mais sobre um dos maiores dramas resultantes dos conflitos armados no mundo, que os estúdios de design Hyperakt and Ekene Ijeoma, sediados em Brooklyn, Nova Iorque, decidiram criar o The Refugee Project, um mapa interactivo que recolhe a informação disponível na base de dados das Nações Unidas, assim como na do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, para contar a história do movimento de refugiados nas últimas décadas, mais especificamente entre 1975 e 2012. O mapa permite visualizar, em cada ano, o tamanho das diásporas de refugiados de dezenas de nações cuja instabilidade ou regime político no poder contribuíram para o flagelo dos refugiados numa escala global. É um projeto exemplar, que está disponível em therefugeeproject.org – partilhemos.

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