Estudantes de Turismo brasileiros preparam-se em Portugal para Mundial e Olimpíadas

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Brasileiros treinam em Portugal para as maratonas que se avizinham Rita Pimenta, Ricardo Rezende

Cinquenta alunos de universidades e politécnicos brasileiros estão em Portugal ao abrigo do programa Formação Brasil – Hospitalidade e Turismo, numa acção pluridisciplinar de preparação para o Mundial de Futebol 2014 e para os Jogos Olímpicos 2016.

O curso decorre na Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, em resultado de um intercâmbio entre Portugal e Brasil, firmado em Setembro pelo secretário de Estado do Turismo de Portugal, Adolfo Mesquita Nunes, e o ministro de Estado e Turismo do Brasil, Gastão Dias Vieira, que se encontraram em São Paulo, na ABAV (Associação Brasileira de Agências de Viagens) 2013 – Feira das Américas.

“O objectivo é dar-lhes competências que não terão obtido a nível da licenciatura em Turismo no Brasil e que lhes serão úteis, sobretudo porque se prevê que vão trabalhar nos grandes eventos desportivos Mundial e Jogos Olímpicos”, explica ao PÚBLICO Maria João Carmo, directora da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal. E continua: “Embora a formação não seja especificamente na área turística desportiva, tentamos pôr um cunho específico, dentro do possível, no que diz respeito à parte desportiva. Através de seminários, visitas e de determinados conteúdos académicos.”

Hospitalidade, recepção e acolhimento, gestão e organização de eventos turísticos são áreas que compõem o currículo, a que se juntam aulas de Inglês (generalista e aplicado ao turismo), técnicas de atendimento a clientes com necessidades especiais (turismo inclusivo) e ainda técnicas de gestão de riscos e a importância da segurança na imagem do país.
Seminários com os organizadores portugueses de eventos como Expo 98 e Euro 2004, assim como workshops de cozinha, serviço e vinhos, visitas a hotéis e a estádios de futebol são algumas das acções complementares à formação em sala de aula.

“É uma formação transversal”, diz a directora da escola, que descreve o grupo de alunos como “heterogéneo, por virem de áreas geográficas distintas do Brasil, mas bastante interessado, com muita vontade de aprender e com elevadas expectativas”.

Voluntariado ou talvez não
Para Vinicius Fanderuff Leoncio, de 19 anos, que estuda em Curitiba, na Universidade Federal do Paraná, “é interessante a gente estar vindo para cá e fazer certas viagens para termos essa experiência, ver o diferente e o que pode ser aplicado no Brasil”. Finalista do curso de Turismo, este jovem de Santa Catarina, para quem a formação “está a valer muito a pena”, vai colaborar no Brasil com uma empresa terá a cargo “o receptivo oficial da Copa”.

Outro estudante que já tem garantido trabalho no Mundial de Futebol é Nicolas Nering, que também frequenta a Universidade Federal do Paraná e vive em Curitiba. “O nosso curso foi considerado no ano passado o melhor curso de Turismo do país. É uma honra muito grande estar representando esse curso aqui nessa qualificação”, diz ao PÚBLICO com orgulho. E explica os seus planos: “Como Curitiba é cidade-sede, vai receber quatro jogos na primeira fase, eu vou trabalhar directamente com a Copa. Participei de um projecto selectivo para trabalhar como um dos representantes no receptivo oficial: receber as delegações e encaminhá-las para os destinos dentro da cidade de Curitiba.”

Quando voltar para o Brasil, vai ter ainda uma orientação mais específica para o Mundial 2014: “Que delegações cada um vai ter de recepcionar no aeroporto, nos hotéis…” Neste caso, será uma actividade remunerada e não voluntária, como acontecerá com outros estudantes integrados no projecto. Para Nicolas Nering, “essa qualificação está sendo importante também para a gente entrar com maior qualidade no mercado de trabalho; principalmente, aprimorar o inglês”.

Quem ainda não pode garantir o que fará exactamente no regresso a casa é Ulysses Xavier Pinheiro, 21 anos, da Universidade Federal de Alagoas, Nordeste: “Eu sou um dos poucos, se não o único, que não moram em cidades-sede do Mundial. Mas o objectivo é trabalhar em cidades-sede. Somos 50, de todo o país, e em minoria do Nordeste.”

Também estudante de Turismo, “bachalerado, aqui licenciatura”, Ulysses diz que “a previsão é de, que ao retornarmos, possamos trabalhar voluntariamente no Mundial e também nas Olimpíadas, mas também ingressar no mercado de trabalho; e permanecer, com melhoras no serviço e no aprendizado”.

Aprender com quem sabe
Haline Fernanda Abramo Lopes, de Carapicuíba, São Paulo, formou-se em Dezembro numa universidade particular, a Universidade 9 de Julho – “diferente das outras daqui, que são federais” – e valoriza o facto de a formação ser ministrada em Portugal, “facilita muito ser com a nossa língua”. Outro aspecto que considera importante: “Aprender com quem sabe fazer.”

A aluna, que falou com o PÚBLICO na véspera de fazer 21 anos, gosta de números: “Portugal tem dez milhões de habitantes e recebe 40 milhões de turistas. O Brasil tem dimensões continentais e recebe pouquíssimos turistas.” As estatísticas foram obtidas numa visita à sede do Instituto de Turismo, em Lisboa.

Haline Lopes não sabe o motivo por que o Brasil não atrai mais visitantes: “Temos ‘n’ opções em diversos estados, do Nordeste ao Sul e não recebemos tantos turistas quanto estamos capacitados e aptos para receber.” Questiona-se “se será pelos serviços, pelos produtos, pela oferta”. E conclui: “A gente não sabe identificar qual é o problema, mas aprendendo aqui com quem sabe talvez consigamos receber muito mais turistas”.

Com especial interesse em hotelaria e a contar beneficiar de São Paulo ser cidade-sede da Copa do Mundo, a aluna espera “conseguir entrar já no mercado de trabalho”. Segundo sabe, há oportunidade de serem “voluntários na Copa ou nalguns hotéis onde vão abrir estágios”. Mas ainda não está totalmente definido como irão funcionar as colocações. “As informações vão-nos chegando aos poucos.”

O Ministério do Turismo do Brasil, que financia o projecto, seleccionou os alunos de entre várias universidades e politécnicos, todos com formação em Turismo. Ao Turismo de Portugal coube a colocação dos alunos na escola de Setúbal e a formação e apoio necessários durante a sua permanência do país.

Para a directora da Escola de Hotelaria e Turismo de Setúbal, “esta primeira experiência de troca de competências entre os dois países poderá abrir caminho para que até ao final de 2014 haja lugar a outras formações”.

Agradecimentos a Altina Almeida, professora de Inglês, a Paula Fernando, professora de Hospitalidade — Recepção e Acolhimento, e ao aluno João Ricardo Lopes Doro
 

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