Oposição síria no exílio aceita participar na conferência de paz da Suíça

Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, descreveu a decisão da Coligação Nacional Síria como "uma escolha corajosa".

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O líder da Coligação Nacional Síria (à esquerda), Ahmad Jarba, na assembleia de Istambul AFP

Não é toda a oposição nem foi uma decisão fácil, mas uma parte da oposição síria no exílio decidiu este sábado enviar uma delegação à Suíça, à conferência de paz conhecida como Genebra II marcada para dia 22 de Janeiro. Os seus promotores, Estados Unidos e Rússia, dizem que servirá para encontrar uma solução política e pôr fim à violência na Síria.

A Coligação Nacional Síria (CNS), o maior grupo da oposição no exílio, começou a sua assembleia-geral em Istambul com um dia de atraso e sob intensa pressão dos aliados norte-americanos, turcos e árabes. A quatro dias do início da conferência, a votação lá acabou por acontecer, sábado à tarde: 58 membros da CNS aprovaram a moção para participar na conferência e 14 votaram contra (houve duas abstenções e um voto em branco). Outros 44 membros tinham-se retirado antes do voto.

Genebra II, que vai acontecer em Montreux, vai assim ter sentados à mesma mesa enviados do regime de Bashar al-Assad e parte dos seus opositores. Para além da CNS, há notícias de que uma série de grupos armados concordaram em enviar representantes à Suíça.

Segundo a ANA News Media Association, uma agência fundada por opositores em 2012, a Frente Islâmica, o Supremo Conselho Militar, a Frente Revolucionária Síria e o Exército dos Mujahedin (coligação formada no início do mês para combater a Al-Qaeda no Norte do país) aceitaram participar na conferência depois de ameaças do Governo turco de que encerraria postos fronteiriços.

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, descreveu a decisão da CNS como "uma escolha corajosa". "Apesar das provocações e dos abusos do regime, esta escolha é a da procura da paz", disse num comunicado.

Na sexta-feira, o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, avisou Damasco que haverá uma "resposta muito mais forte" se a conferência for usada como manobra de diversão e o regime tentar "desviar [as negociações] dos objectivos".

Há grandes riscos de que isso aconteça, mesmo porque os diferentes intervenientes continuam a enumerar objectivos diferentes para a sua participação na conferência. E é pouco provável que Assad tenha medo de respostas fortes.

"O objectivo de qualquer solução política deve ser a entrada em funções de um governo de transição sem o Presidente Assad, dotado de plenos poderes e com a tarefa de organizar eleições transparentes", lembrou o porta-voz da CNS, Khaled Saleh, antes da assembleia da coligação. Os EUA dizem o mesmo, mas o regime e a Rússia discordam. Damasco diz que não irá à Suíça "para entregar o poder a quem quer que seja nem para negociar com quem quer que seja".

O regime anunciou entretanto algumas concessões, propondo uma "troca de prisioneiros" e um plano que prevê “o fim de todas as acções militares” na região de Alepo, a grande metrópole do Norte da Síria, transformada em campo de batalha. A estes anúncios, feitos na sexta-feira em Moscovo pelo ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Walid Mouallem, seguiu-se a entrada de alguma ajuda no campo de refugiados palestinianos de Yarmouk, em Damasco – 18 mil pessoas estão ali cercadas e pelo menos 40 já morreram de fome e por falta de cuidados médicos – e um bombardeamento que matou pelo menos 16 pessoas em Alepo.

Genebra II vai mesmo acontecer, mais de 130 mil mortos e quase três anos depois do início das manifestações pacíficas contra Assad; resta saber se servirá de facto para alguma coisa. Numa entrevista ao jornal Le Monde, Haytham Manna, responsável do Comité de Coordenação Nacional para as Forças da Mudança Democrática, a oposição no interior, tolerada pelo regime, que decidiu boicotar Genebra, defende que a participação da oposição na conferência equivale a um suicídio político.

"As condições não estão reunidas. As nossas exigências eram mínimas: libertação das mulheres, crianças, deficientes e doentes presos pelo regime; o fim dos bombardeamentos das zonas civis; o envio de pão e de água para as zonas cercadas pelo Exército... Pedíamos menos do que uma organização de caridade, nem pedíamos o restabelecimento da electricidade nas zonas cercadas", explica Haytham Manna. "Se a comunidade internacional não é capaz de fazer sair uma só criança das prisões sírias, como é que pode ser capaz de tirar Bashar al-Assad do poder?"

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