Vitória esmagadora do "sim" no referendo constitucional egípcio

Menos de 40% dos eleitores participaram numa consulta que tinha como objectivo legitimar o derrube do Presidente Mohamed Morsi.

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“Todas as estradas levam Sissi à presidência da República”, escreve o jornal oficial Mohamed Abd El Ghany/Reuters

A participação não chegou aos 40% mas a vitória do “sim” foi estrondosa: 98,1% dos egípcios que votaram no referendo de terça e quarta-feira aprovaram a nova Constituição.

O governo interino – na prática, quem governa é o Exército – disse antes que uma taxa de participação acima dos 32,9%, a do referendo constitucional do final de 2012, seria considerada uma “vitória”. Desta vez, votaram 38,6% dos eleitores. Em Dezembro de 2012, a Constituição foi aprovada com 63,8% dos votos.

Na altura, os críticos do Governo da Irmandade Muçulmana consideram que uma participação de pouco mais de 30% não dava legitimidade democrática ao texto referendado. Na primeira volta das presidenciais de 2012 votaram 46,6% dos perto de 52 milhões de eleitores. Nas legislativas do final de 2011 participaram 62%.

O objectivo aqui era legitimar o golpe de Estado contra Mohamed Morsi, o primeiro Presidente democraticamente eleito, derrubado e preso no início de Julho de 2013, depois de manifestações gigantescas a pedirem a sua demissão. Hani Salah, porta-voz do governo interino, admitiu que esta consulta era “também um referendo sobre o 30 de Junho”, data do grande protesto anti-Morsi, quando o político da Irmandade Muçulmana cumpria um ano na presidência.

A Irmandade, que não atribuiu legitimidade à consulta, apelou à abstenção. Os activistas do movimento 6 de Abril, fundamentais no arranque da constestação à ditadura de Hosni Mubarak, fizeram o mesmo apelo.

Este referendo, que introduz algumas revisões ao texto da Lei Fundamental referendo por Morsi, foi apresentado como a primeira etapa da “transição democrática” prometida pelos militares. Falta agora realizar eleições legislativas e presidenciais ainda este ano.

O novo texto proíbe partidos políticos “com base na religião, raça, género ou geografia”, define que os futuros presidentes só poderão governar durante dois mandatos de quatro anos e consagra a “igualdade entre homem e mulher”.

O novo líder do Egipto, o general Abdel Fattah al-Sissi, chefe do Exército, vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, ligou o seu próprio destino aos resultados deste referendo: três dias antes da ida às urnas, anunciou que será candidato às próximas presidenciais “se o povo o reclamar”. “Todas as estradas levam Sissi à presidência da República”, escreve este sábado na primeira página o jornal oficial Al-Akhbar.

Os apoiantes da Irmandade Muçulmana continuam a manifestar-se contra os militares e a exigirem a libertação de Morsi e dos muitos membros da confraria religiosa e do seu partido político que entretanto foram presos. A Irmandade foi entretanto declarada uma “organização terrorista”.

Os protestos nunca mais tiveram grandes dimensões por causa do forte aparato de segurança e das detenções, mas na sexta-feira morreram pelo menos três pessoas em confrontos entre manifestantes e polícias. Em Julho, mais de mil pessoas foram mortas quando as forças de segurança dispersaram à força manifestações de apoio a Morsi.

O movimento islamista apela agora a um grande protesto no dias 25 de Janeiro, terceiro aniversário do início da revolução que obrigou Hosni Mubarak a deixar o poder. O Ministério do Interior pediu, por seu turno, aos apoiantes das novas autoridades, para saírem à rua contra “o plano da Irmandade Muçulmana de semear o caos”.

Os dados sobre o referendo foram anunciados este sábado à tarde pela Comissão Eleitoral. Segundo o jornal egípcio Al-Tahrir, ainda durante o dia será anunciado que as eleições presidenciais se vão realizar em Março. 
 
 
 
 

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