“Temos de caminhar no sentido de repor jovens”

Jovens a menos e burocracia a mais são dois problemas do LNEC, um dos quatro laboratórios visitados pelo PÚBLICO no âmbito deste dossier dedicado à ciência. A passagem do testemunho entre gerações de investigadores é uma preocupação central.

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Carlos Pina, presidente do LNEC Rui Gaudêncio

Entra-se no salão do núcleo de Engenharia Sísmica e Dinâmica do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa, e duas estruturas remetem-nos logo para um lego gigante ou um brinquedo Meccano. Na verdade, são uma representação em tamanho real das gaiolas pombalinas, estruturas no interior dos prédios da Baixa lisboeta. O objectivo é fazer tremer os objectos com sete metros, como quando um edifício está sujeito a um sismo. Aquilo é um lego para adulto, para fazer ciência. Estamos perante uma experiência de um trabalho de doutoramento para melhorar os edifícios deixados pelo marquês de Pombal.

“Não conhecendo [a resistência aos sismos], não sabemos os níveis de segurança que temos nas nossas construções”, explica Alfredo Campos Costa, investigador principal deste núcleo. É em cima de uma plataforma que gera vibrações que está um dos modelos da gaiola pombalina, com uma inovação para a experiência de Ana Gonçalves, doutoranda do Instituto Superior Técnico.

As gaiolas têm um esqueleto de madeira em rede que forma as famosas cruzes de Santo André. Esta estrutura está presa à fachada dos prédios e foi pensada para resistir aos sismos. O laboratório já testou uma outra gaiola normal, que começava a ceder com sismos com um período de retorno de 475 anos (o de 1755, de magnitude entre 8,5 e 9, tem um período de retorno entre 2000 e 2300 anos). “Há muitos edifícios em que a gaiola pombalina tem sido destruída”, acrescenta Alfredo Campos Costa. A nova gaiola tem um reforço em chapa metálica em cada cruz, que será testada para ver se a estrutura ganha mais resistência.

Este tipo de colaboração com universidades é central para o LNEC atrair pessoas e projectos. Em 2012, o laboratório tinha 533 trabalhadores no quadro, menos 403 do que em 1996. Os técnicos são uma minoria crescente. “Os que sobram têm uma sobrecarga de trabalho excessiva, os ensaios prolongam-se pela noite”, revela Alfredo Campos Costa. Mas para Carlos Pina, engenheiro e presidente da instituição, o grande problema é a passagem do conhecimento. Em 2012 havia apenas um investigador com menos de 40 anos. Os mais novos são bolseiros, vêm e vão. “Temos de caminhar no sentido de repor jovens”, diz Carlos Pina.

O LNEC foi criado em 1946, para investigação, desenvolvimento e avaliação das obras de engenharia civil. A engenharia por trás do plano nacional de barragens nasceu nesta instituição. Hoje é um dos laboratórios do Estado, na tutela do Ministério da Economia. Emite pareceres para as grandes obras, como o túnel do Marão, ou monitoriza as barragens.

No comprido edifício onde trabalha o núcleo de Recursos Hídricos e Estruturas Hidráulicas encontra-se uma versão ao detalhe da barragem de Foz Tua, 60 vezes mais pequena, onde se estudaram a hidráulica, a transferência de energia ou o impacto no ambiente. “Todas as barragens foram aqui ensaiadas”, explica-nos José Melo, investigador auxiliar.

Muitos trabalhos são feitos para o exterior, como o projecto de uma barragem para a Argélia. “Continuamos a ser competitivos, temos prestígio, a intervenção do LNEC é uma mais-valia”, explica Carlos Pina. Segundo o presidente, 55% do financiamento do LNEC vem de receita própria: são entre 14 e 15 milhões de euros gerados por serviços prestados e obtidos em projectos de investigação. Mas a contínua burocracia estatal, que impede a rapidez de funcionamento, não permite captar “um milhão de euros por ano”, contabiliza Carlos Pina, que se queixa “das exigências formais exigidas a um organismo do Estado”.  

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