Centros de saúde abertos mais horas para aliviar urgências dos hospitais

Dentro de uma a duas semanas, horários de alguns centros de saúde vão ser alargados, podendo ficar abertos até às 22 horas.

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Cargos de secretários clínicos são nalguns casos ocupados por desempregados Rui Gaudêncio

Com o aumento dos casos de gripe nas últimas semanas, e depois de várias urgências hospitalares terem dado sinais de pré-ruptura, o ministro da Saúde deu esta sexta-feira orientações aos centros de saúde para que aumentem os seus horários, quando tal se justifique e se for “possível”.

O alargamento dos horários dos centros de saúde vai agora ser organizado pelas estruturas a nível regional e deve acontecer "no espaço de uma a duas semanas", adiantou ao PÚBLICO uma fonte do Ministério da Saúde. Noutros locais poderá optar-se por um reforço das equipas, e, eventualmente, pelo alargamento da vacinação.

"O alargamento de horários das estruturas dos CSP [cuidados de saúde primários], que poderá ir até às 22h00, será feito em coordenação com as respetivas ARS [administrações regionais de saúde] e acontecerá sempre que necessário, sempre que se justifique e sempre que for possível", explicita a ARS do Norte, num comunicado divulgado ao final da tarde.

Depois de o período epidémico da gripe ter começado  no início de Janeiro, os especialistas prevêem que o pico da epidemia ocorra dentro de quatro a seis semanas. Por enquanto, a actividade gripal em Portugal é moderada, mas o pico deverá ocorrer “no final de Janeiro, primeira quinzena de Fevereiro”, antecipa o pneumologista e consultor da Direcção-Geral da Saúde Filipe Froes.

Vários casos graves
Este ano, apesar de se estar ainda numa fase inicial da epidemia, já há vários casos graves que obrigaram ao internamento em unidades de cuidados intensivos (dez na primeira semana e seis, na última), algo que habitualmente não acontece. “Geralmente há um intervalo de duas a três semanas entre o aparecimento de casos na comunidade e a detecção de casos graves”, explica o especialista.

A estirpe predominante é, mais uma vez,  a pandémica A(H1), que afecta sobretudo pessoas mais jovens, apesar de também estar em circulação a A (H3), que atinge os mais idosos.

Sexta-feira, depois de visitas às urgências dos centros hospitalares de Coimbra, Aveiro e S. João (Porto), o ministro da Saúde reuniu-se com responsáveis das administrações regionais de saúde para fazer um balanço da situação e para decidir as medidas a tomar para aliviar a procura das urgências hospitalares.

A propósito das situações de congestionamento verificadas no período de Natal e Ano Novo, Paulo Macedo admitiu à Lusa que são "indesejáveis", mas notou que afectaram doentes de menor gravidade. “Os portadores de pulseira vermelha e laranja [conforme o método de triagem de Manchester] têm uma resposta claramente atempada", disse. A solução passa por melhorar a organização de circuitos e retirar da urgência casos não urgentes, como os gripais, disse. Também recomendou um maior recurso à Linha Saúde 24 (808 24 24 24).

Com gripe ou sem gripe, o certo é que os portugueses estão de novo a recorrer mais às urgências dos hospitais públicos, a crer nos dados mais recentes de 2013, que apontam para uma inversão da tendência verificada no ano anterior. Entre Janeiro e Novembro do ano passado, houve mais 181 616 episódios de urgência do que no mesmo período de 2012 (um acréscimo de 3,4%),  de acordo com os dados da Administração Central do Sistema de Saúde. Ao mesmo tempo, as consultas nos centros de saúde diminuíram (menos 135 759), tal como o número de casos agudos observados nos Serviços de Atendimento Permanente (SAP) dos centros de saúde (menos 275 261).

Lares de idosos fiscalizados
O ministro da Saúde estranhou sexta-feira o elevado número de idosos a residir em lares que têm chegado às urgências hospitalares nas últimas semanas e frisou que é preciso perceber por que razão é que isto está a acontecer e verificar se estão a ter a devida assistência clínica.

“Estamos a receber no Serviço Nacional de Saúde muitas pessoas de lares e temos que verificar se estão a ter todo o tipo de assistência clínica, quer ao nível de enfermagem, quer médica, que está prevista na lei”, defendeu Paulo Macedo. “Se essas pessoas tiverem um acompanhamento regular nos próprios lares estarão mais controladas e só virão ao hospital em caso de efectiva necessidade”, justificou.

Reagindo às declarações do ministro, o presidente da Associação de Apoio Domiciliário dos Lares e Casas de Repouso de Idosos (ALI) disse não ter a menor dúvida de que na maior parte dos lares clandestinos os residentes não recebem a devida assistência clínica. João Ferreira de Almeida recomendou, porém, “um bocadinho mais de cuidado”. “Não é correcto falar de lares, pois é preciso separar o trigo [os licenciados] do joio [os clandestinos]”, afirmou à Lusa.

Quanto ao estado de saúde dos idosos provenientes de lares, considerou que não será muito diferente do registado em anos anteriores, uma vez que eles chegam cada vez mais fragilizados às instituições.

Na quinta-feira, o Governo aprovou em Conselho de Ministros um novo  regime sancionatório que eleva substancialmente as coimas para quem tiver um lar sem licenciamento. Em 2013 a Segurança Social encerrou 89 lares de idosos.

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