Desmantelada rede internacional de pedofilia na Internet nas Filipinas

O governo filipino estima que entre 60 mil a 100 mil crianças do país sejam vítimas de exploração sexual.

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A NCA classificou a pedofilia online como uma “ameaça significativa e emergente” Pedro Cunha

Uma investigação internacional conduzida pela polícia britânica e em parceria com as autoridades dos Estados Unidos e da Austrália conduziu ao desmantelamento de uma rede de pedofilia que transmitia em directo na internet abusos sexuais de crianças nas Filipinas.

Numa operação intitulada Endeavour iniciada em 2012 e, que se estendeu a mais de 14 países, 29 pessoas foram detidas e mais de 700 suspeitos foram identificados, disse a Agência Nacional do Crime britânica (NCA).  Além disso, 15 crianças com idades compreendidas entre os seis e os 15 anos foram resgatadas.

Os suspeitos identificados vêm de vários países incluindo a Alemanha, Austrália, Canada, Dinamarca, Estados Unidos, França, Holanda, Hong Kong, Noruega, Suécia, Suíça e Tailândia.

A NCA classificou a pedofilia online como uma “ameaça significativa e emergente” em particular nos países em desenvolvimento.  A extrema pobreza, a crescente disponibilidade de internet de alta velocidade por todo o mundo e a existência de uma vasta e rica lista de clientes a nível global faz com que cada vez mais grupos de crime organizados explorem crianças para ganhos financeiros, acrescentou.

A investigação em curso revelou que o valor de pagamentos feitos pelos clientes foi contabilizado pela polícia em mais de 45 mil euros.

A história de Lani

A jovem Lani, resgatada nas Filipinas no decorrer da operação policial, contou à BBC que foi obrigada a praticar cibersexo quando tinha 15 anos, descrevendo a prática como “um trabalho maligno”.  A sua tia prometera-lhe um trabalho como ama mas quando ela chegou ao local, o que recebeu foi ordens para conversar na internet com estrangeiros.

A conversa transformou-se rapidamente em exigências para que a menina se despisse e se exibisse para os homens que assistiam na webcam. “As pessoas quando ouvem falar em cibersexo, pensam que não há efeitos físicos”, disse Lani. “Mas isso afecta a tua essência. Tira-te a tua dignidade e a tua pureza”, acrescentou.

A investigação começou em 2012 após a polícia de Northamptonshire ter realizado uma visita de rotina na casa do criminoso sexual registado como Timothy Ford, onde encontraram uma série de vídeos indecentes nos computadores e uma colecção de DVD’s gravados a partir de uma webcam.

A NCA contactou entretanto o Centro Online de Protecção de Exploração Infantil britânico (Ceop) iniciando assim uma investigação global. A análise dos meios digitais apreendidos levou à identificação de vários suspeitos e vítimas infantis, envolvendo desta forma a Polícia Nacional das Filipinas.

Timothy Ford foi condenado em Março do ano passado a oito anos e meio de prisão. Os detectives encontraram registros de transferências de dinheiro para os pais de cinco crianças, que foram depois abusadas sexualmente.

O vice-director do Ceop Andy Baker disse que esta investigação permitiu identificar perigosos predadores sexuais que acreditavam que pagar para ver crianças a serem abusadas online era algo pelo qual não iriam ser incriminados. “Estar a milhares de quilómetros de distância não diminui a sua culpa. Na minha opinião, eles são tão culpados pelo abuso das crianças como os que obrigam as crianças a fazê-lo na outra ponta do mundo”, disse à BBC.

O governo filipino estima que entre 60 mil a 100 mil crianças do país sejam vítimas de exploração sexual, muitas delas via internet.

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