Situação humanitária na Síria é "inimaginável", descreve responsável humanitária da ONU

Vice-secretária geral das Nações Unidas exprimiu "extrema preocupação" com relatos de populações famintas, isoladas por meses de cerco militar. Em Paris prosseguem esforços diplomáticos para negociações entre o regime e a oposição.

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Crianças sírias recém-chegadas à Turquia OZAN KOSE/AFP

De visita à Síria, a vice-secretária geral das Nações Unidas para as questões humanitárias, Valerie Amos, descreveu o cenário que encontrou como “inimaginável”, e manifestou a sua “extrema preocupação” com os relatos de populações à beira da fome que lhe chegaram de várias zonas daquele país em guerra há quase três anos, incluindo a capital.

Em declarações à BBC, Amos referiu a situação dramática das crianças e também os doentes e feridos, que não têm acesso a alimentos ou tratamentos por causa de meses consecutivos de cerco militar ou por terem sido obrigados a fugir para zonas onde não consegue chegar a assistência internacional. “Eles não conseguem sair e nós não conseguimos entrar”, lamentou a responsável pelos esforços humanitários da ONU.

Nas estimativas das Nações Unidas, há mais de 2,5 milhões de sírios a viver em situação de isolamento e a passar fome. O corte da distribuição alimentar tem sido uma das tácticas usadas por ambos os lados em confronto na Síria. Um dos locais onde as Nações Unidos o puderam constatar foi no campo de refugiados palestinianos de Yarmouk, próximo do centro de Damasco, onde muitas crianças têm subsistido a comer apenas especiarias dissolvidas em água e por vezes alimentos para animais.

Valerie Amos manteve contactos com dirigentes do Governo do Presidente Bashar al-Assad, a quem pediu garantias da abertura de corredores humanitários no país para que as equipas internacionais possam chegar junto das populações necessitadas. “O número  de pessoas que precisam de ajuda no interior da Síria, mas também em campos de refugiados, está a aumentar de forma muito significativa”, observou.

A visita da vice-secretária geral da ONU à Síria precedeu em dois dias a realização de uma reunião de doadores da Síria, marcada para o Kuwait, e cujo objectivo é arrecadar um total de 6,5 mil milhões de dólares em fundos para apoiar a população do país. A fasquia das Nações Unidas é ambiciosa: em 2013, os doadores não foram além de 1,5 mil milhões.

Ontem a partir de Paris, os representantes diplomáticos de onze países que apoiam a oposição ao regime de Assad lançaram um apelo à participação de todos os grupos que têm lutado contra o Presidente da Síria, na conferência internacional Genebra 2, várias vezes protelada e agendada para o próximo dia 22 de Janeiro na Suíça.

O chamado grupo dos Amigos da Síria considera que não será possível desenhar uma resposta para o fim da crise síria sem a inclusão de todos os intervenientes no processo negocial. “Não há nenhuma outra solução política para a Síria”, frisou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, num recado destinado ao bloco da Coligação Nacional, que ainda não confirmou a sua presença.

“Apelamos à Coligação Nacional que responda positivamente ao convite para integrar a delegação da oposição síria e participar no processo político”, dizia uma declaração emitida após contactos com o líder da coligação, Ahmad Jarba. “Uma coisa em que todos concordamos é que Assad não tem futuro nenhum na Síria”, respondeu o dirigente, que se comprometeu a decidir até ao dia 17 de Janeiro sobre a sua presença (ou não) na Suíça.

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