Alemanha garante nova ajuda se Grécia cumprir programa de ajustamento

Ministro das Finanças alemão diz que há disponibilidade para novos apoios se os gregos cumprirem todos os compromissos assumidos com a troika.

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"O desemprego na Grécia não é o resultado da política europeia", disse o ministro alemão

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, garantiu que a Grécia receberá novas ajudas comunitárias se cumprir todos os compromissos assumidos com a troika e continuar com o processo de reformas.

"Se a Grécia cumprir todos os seus deveres até ao final de 2015, e alcançar um excedente primário nas suas contas públicas e, apesar disso, apresentar dificuldades financeiras, estamos preparados para ajudar", afirmou Schäuble numa entrevista publicada neste sábado pelo diário alemão Rheinische Post.

No entanto, o titular da pasta das Finanças da Alemanha advertiu que a ajuda europeia à Grécia, caso Atenas necessite, será "sem dúvida alguma muito mais pequena" face à ajuda financeira que os helénicos receberam até ao momento. O governante disse, por isso, que é preciso esperar até meados de 2014 para comprovar se esse novo apoio financeiro é, ou não, necessário.

Na mesma entrevista, Schäuble garantiu que ninguém duvida dos "progressos significativos" alcançados pela Grécia no seu caminho para superar a crise, apesar de alguns não acreditarem que tal fosse possível, mas insistiu que Atenas "deve continuar com as reformas estruturais e respeitar os seus compromissos".

"Não faz sentido responsabilizar o Fundo Monetário Internacional (FMI) pelos problemas sociais ou querer exclui-lo da troika", acrescentou ainda o ministro alemão. A troika é composta pelo FMI, pelo Banco Central Europeu (BCE) e pela Comissão Europeia (CE).

Críticas aos cálculos incorrectos
As declarações do ministro surgem na mesma semana em que a Grécia acusou a troika de ter feito cálculos incorrectos sobre a aplicação das medidas de austeridade no país e os seus efeitos na economia grega. As críticas são foram feitas pelo ministro das Finanças grego, Yannis Stournaras, numa resposta escrita à delegação do Parlamento Europeu que está a avaliar a gestão da crise por parte da troika.

Segundo o ministro, "a zona euro não diagnosticou a tempo as causas da crise na Grécia e no Sul da Europa" e o programa de austeridade foi aprovado num momento em que o país se encontrava em recessão, "o que provocou dificuldades adicionais, já que (...) os ajustamentos estruturais são mais fáceis de aplicar em períodos de crescimento económico". O primeiro programa colocou "grande ênfase" no aumento de impostos e não na redução da despesa, referiu o ministro, sublinhando que a luta contra a evasão fiscal "deveria ter começado muito antes".

Os erros de cálculo, as medidas de austeridade e a profunda crise levaram a um recuo de 25% do PIB desde 2009, algo que "nunca se verificou num país desenvolvido, com excepção dos Estados Unidos durante a Grande Depressão". Os rendimentos dos gregos caíram um terço em seis anos, 35% da população está em risco de pobreza ou exclusão social e o desemprego chegou a 27%, com dois em cada três desempregados sem trabalho há mais de um ano.

A Grécia ainda está a cumprir o segundo programa de assistência, aprovado em 2012, e está previsto que a troika regresse a Atenas no próximo dia 15. Apesar de alguns dos dados, no último dia do ano passado, o primeiro-ministro grego garantiu que o país vai sair em 2014 do programa de assistência financeira, passando a ser um "país normal".

"Em 2014 faremos uma grande parte da saída" do plano de ajuda, disse Antonis Samaras, numa declaração televisiva ao país por ocasião do ano novo, acrescentando que "a dívida grega será oficialmente considerada viável" e que "não serão precisos novos acordos de assistência nem empréstimos".

Ao longo dos dois planos de resgate, a Grécia beneficiou do empréstimo de 240 mil milhões de euros da União Europeia e Fundo Monetário Internacional, em troca de medidas severas de austeridade que desde 2010 têm provocado profundas alterações no quotidiano dos gregos.

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