Um casal cada vez menos real

A esmagadora maioria dos espanhóis critica a gestão que a Casa Real tem feito do caso Urdangarín e 70% acreditam que há motivos para acusar a filha do rei.

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Reuters

Apesar de ser a mulher independente da família, a primeira a licenciar-se e a estudar no estrangeiro, não terá sido fácil para Cristina de Borbon o isolamento a que as acusações de corrupção contra o seu marido a votaram. A Casa Real cortou com Iñaki de Urdangarín no final de 2011, logo depois da acusação formal. Ao decidir permanecer casada, a infanta agora acusada no mesmo processo teve de se afastar dos actos oficiais, da própria família e de Espanha.

Iñaki é acusado de desvio de fundos e de ter usado o seu lugar na família real para conseguir contratos para a sua fundação de promoção do desporto, o Instituto Nóos, supostamente sem fins lucrativos. O plebeu que se tinha tornado no desportista da família – Iñaki é ex-campeão olímpico de andebol – depressa caiu em desgraça e a Zarzuela chegou a descrever a sua conduta como “pouco exemplar”.

Diferente tratamento, apesar de tudo, teve Cristina. Em Abril de 2013, quando o juiz José Castro quis pela primeira vez chamar a infanta para uma audiência formal, acusando-a na altura de ter autorizado o uso do seu “nome, tratamento e cargo” nos negócios do marido, a Casa Real defendeu-a, expressando a sua surpresa e manifestando o seu apoio à filha do meio dos reis.

Muito aconteceu entretanto e o caso Urdangarín já custou caro à Casa Real, o que pode explicar o comunicado da Zarzuela desta terça-feira, onde se expressa apenas “respeito pelas decisões judiciais”. É verdade que as suspeitas agora são mais sérias e o juiz a quer ouvir por branqueamento de capitais e fraude fiscal.

A opinião dos espanhóis, por exemplo, mudou de forma significativa. Em Dezembro de 2011, 88% dos inquiridos numa sondagem do instituto Sigma Dos para o El Mundo apoiavam a gestão que a Casa Real fazia do processo; agora, 83,4% criticam essa gestão e 93% têm má impressão do casal (64,8% da infanta). Pior: 70% vêem motivos para acusar a infanta e 90,1% consideram que a justiça não é igual para todos.

Iñaki apagado do site real
Três anos se passaram desde que Iñaki foi indiciado. Na altura, o genro de Juan Carlos trabalhava na Telefónica e a família vivia em Washington. Para responder ao processo, o casal e os seus quatro filhos regressaram a Espanha. Desde o Verão passado que Cristina vive em Genebra, onde trabalha para a Fundação La Caixa e para a Fundação Aga Khan, e ali vive com os filhos. Iñaki mantém residência oficial em Barcelona.

Nem Iñaki nem Cristina voltaram a aparecer em fotografias com o rei ou com o sucessor, o príncipe Felipe. Há um ano, a Zarzuela foi mais longe e apagou o marido da infanta do seu site. A rainha Sofia visita a filha e os netos com frequência, mas nunca mais se deixou ver ao lado do genro.

Um pouco antes, em Novembro de 2012, Cristina decidiu que iria visitar o pai ao hospital, acompanhada pelo marido. Conta o El País que a infanta telefonou ao pai a informá-lo disso mesmo. Para evitar que a família surgisse junta em público, o casal acabou por entrar com o filho mais velho e com a rainha, num carro, enquanto Felipe e a sua mulher, Letizia, entraram noutra viatura.

Quase 17 anos se passaram desde que Cristina casou com Iñaki e recebeu o título de duquesa de Palma como prenda do pai. O casal normal, como era visto pelos espanhóis, viveu discreto, mas viu o seu estilo de vida mudar. As remunerações de ambos cresceram e o mesmo aconteceu com os seus gastos.

A casa também foi aumentando, até que a família se mudou para um palacete de Pedralbes, que comprou em 2004 por seis milhões de euros – o palacete no bairro de Barcelona foi posto à venda por 9 milhões no ano passado, metade está confiscada pela justiça.
 

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