Kerry abre um bocadinho a porta Genebra 2 ao Irão

Com ou sem Teerão, ainda é cedo para ter a certeza de que o encontro marcado para 22 de Janeiro vai mesmo acontecer.

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Kerry passou os últimos dias nas várias capitais do Médio Oriente Brendan Smialowski/AFP

Os Estados Unidos sugeriram pela primeira que o Irão pode participar de alguma forma na conferência de paz sobre a Síria marcada para 22 de Janeiro na Suíça.

Conhecido como Genebra 2, o encontro vai na verdade acontecer em Montreux, e, espera-se, juntará representantes do regime de Bashar al-Assad e da oposição. Teerão, explicou o secretário de Estado John Kerry, não terá direito a “um convite formal de participação”, isso “é para os que apoiaram Genebra 1”, o acordo negociado na cidade em 2012, quando Kofi Annan era o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria. Mas isso, disse Kerry em Jerusalém, não significa que os iranianos tenham de ficar de fora.

“Agora, podem contribuir a partir das margens? Há formas concebíveis para que façam valer o seu peso? É possível que a missão deles que já existe em Genebra esteja presente de forma a ajudar o processo? Há formas de fazer acontecer isto”, disse o chefe da diplomacia de Barack Obama.

O regime sírio insiste numa participação iraniana, recusada pela Arábia Saudita e, até agora, vista com maus olhos por Washington. Apesar do acordo sobre o nuclear iraniano assinado em Novembro e da melhoria de relações com Teerão aberta pela eleição do Presidente Hassan Rohani, os EUA ainda não tinham aberto a porta a uma participação iraniana na negociação do conflito sírio.

Quem se opõe argumenta que os iranianos apoiam militarmente Assad, assim como o Hezbollah libanês que, por sua vez, combate ao lado do regime. É um facto, como também é verdade que Teerão é a capital com mais capacidade para influenciar Damasco.

Com ou sem Irão, ainda é cedo para ter a certeza de que Genebra 2 vai mesmo acontecer. Reunida a partir deste domingo em Istambul, a oposição síria vai reavaliar a sua decisão inicial de participar no encontro. A Coligação da Oposição Síria, que reúne os principais grupos da oposição no exílio e dentro da Síria, viu-se forçada a debater o tema depois do anúncio, na sexta-feira, do maior grupo que a integra, o Conselho Nacional Sírio, de que não irá à Suíça.

Para o Conselho Nacional, “a ideia deste encontro é inoportuna” e ali “irá tentar-se colocar o regime sírio e a oposição em pé de igualdade”, o que é inaceitável.

A ideia desta conferência que a ONU está a organizar começou a ser discutida há quase um ano por norte-americanos e russos – a Rússia bloqueou várias resoluções a condenar Assad no Conselho de Segurança e rejeitou sempre qualquer intervenção externa que, no entender do Governo de Moscovo, teria sempre como objectivo impor uma mudança de regime. Só com os brutais ataques de Agosto, quando bombardeamentos com gás sarin mataram mais de 1400 civis nos arredores de Damasco, é que Washington e Moscovo se puseram de acordo sobre um conjunto de condições mínimas para tornar possível a conferência.

Mas muito esteve sempre por definir e os diferentes participantes só concordaram em estar presentes porque têm interpretações distintas do ponto de partida. Para a Coligação da Oposição Síria, as discussões terão de acontecer “na base de uma transferência de poder integral”, num cenário em que tanto Assad como “todos os que têm sangue nas mãos não terão nenhum papel na fase transitória nem no futuro da Síria”. O acordo de Genebra 1 fala em governo de transição decidido por “consenso mútuo", o que para os EUA excluiu Assad, para a Rússia nem por isso.
 

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