2013

O sindicalismo pareceter sido a única forma de representação institucional que deu algum alento e algum chão protector às pessoas.

Empobrecimento do país, empobrecimento da população, degradação da imagem da generalidade das instituições de poder. Este pode ser um resumo breve do ano de 2013 português. Um ano em que foi notório o desgaste do quotidiano e da qualidade de vida das pessoas que vivem em Portugal. Mas em que foi manifesta também a erosão da representatividade política dos cidadãos pela maioria das instituições que supostamente deveriam assegurar essa representação.

À cabeça desse desgaste de representatividade está o Presidente da República. Aproveitando uma crise governativa, tentou forçar um acordo tripartido entre os dois partidos do Governo (PSD e CDS) e o principal partido da oposição (PS). Um acordo que garantisse o que lhe parecia ser condições de governabilidade que servissem de respaldo às negociações com a Comissão Europeia, o BCE e o FMI. Acabou com uma mão´-cheia de nada e outra de coisa nenhuma. E o único interlocutor que teve, ao longo de 2013, foi o Tribunal Constitucional, um órgão de soberania cujo peso real no sistema de poderes foi visibilizado pela crise.

Mas se o desgaste da imagem do Presidente foi grande, o que dizer do Governo no ano em que passou pela crise autofágica iniciada com a demissão de Vítor Gaspar, cuja carta de demissão surgiu como um hara-kiri político colectivo. Qual a legitimidade de um governo e de um primeiro-ministro, Passos Coelho, que continuar a praticar políticas e a aplicar medidas que não sufragou democraticamente? Qual a coerência de um governo que tem as suas próprias políticas criticadas pelo líder do segundo partido da coligação e vice-primeiro-ministro, Paulo Portas? Qual a consistência de um governo em que o líder do segundo partido da coligação, Paulo Portas, se demite num dia de forma “irrevogável” para, dias depois, aceitar ficar, mas com um upgrade que o conduz a vice-primeiro-ministro?

Quando os cidadãos olham em volta e procuram alternativas que os representem politicamente, o que encontram é um PCP fechado em si e um BE enredado nas suas contradições. E vêem também um PS que vive de um imobilismo que surge mal disfarçado de acção política inconsequente. Em que a direcção socialista mais parece nem ter pudor em mostrar que não faz um esforço real para influenciar as decisões de governo, através da apresentação de propostas que surjam para o país como consistentes e claras. E em que António José Seguro aparenta querer ficar bem com Deus e com o Diabo, não se comprometer com uma oposição cristalina e mais parece gerir o passar do tempo e da sua imagem pública à espera que o poder lhe caia no colo. As recentes negociações sobre IRC são a excepção que confirma a regra: uma fotografia de campanha para o PSD mostrar nas próximas legislativas.

Abandonadas à sorte de gerirem a sua insegurança e o seu medo do futuro sem se reverem nem sentirem representadas nos órgãos de soberania nem nas instituições político-partidárias, as pessoas ou pelo menos parte delas ainda canaliza o descontentamento para o protesto e para a manifestação de rua. Rua que, em 2013, viveu de manifestações inorgânicas de pouco impacto, e sobretudo de manifestações enquadradas pelas centrais sindicais. Mesmo quando rompem barreiras nunca antes ultrapassadas, como aconteceu com a manifestação de elementos das forças de segurança que subiram a escadaria da Assembleia da República.

Apesar de, com as transformações do capitalismo financeiro e da organização do trabalho, as formas de luta tradicionais do sindicalismo se terem tornado muitas vezes inconsequentes, a verdade é que, em Portugal, coube à CGTP e à UGT o papel de representação dos trabalhadores face aos desmandos do poder. Uma CGTP que endureceu a expressão e tornou explícito o seu ideário político próximo do PCP, em 2012, com a nova liderança de Arménio Carlos. E que positivamente tem conseguido assegurar que o protesto de rua é enquadrado e não descamba em motim.

Sinal positivo veio também da UGT e da sua nova liderança. O aparentemente acomodado João Proença, depois de décadas de desgaste provocado por cedências ao poder governamental e patronal na Concertação Social, foi substituído por uma nova equipa liderada por Carlos Silva, que imprimiu uma nova dinâmica mais combativa ao sindicalismo reformista da UGT. Uma nova direcção que trouxe uma atitude mais dialogante com a CGTP, com o objectivo da luta conjunta, e um tom mais reivindicativo perante o poder e o patronato.

O sindicalismo parece assim em Portugal ter sido ao longo de 2013 a única forma de representação institucional que deu algum alento e algum chão protector às pessoas que sentem a onda avassaladora das decisões do poder a retirar-lhes o tapete debaixo dos pés a desestruturar-lhes os projectos de vida que um dia sonharam ser possíveis.
 
 
 
 
 
 

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