Sampaio da Nóvoa ensinou a ser "livre" num "país paroquial"

Ex-reitor da Universidade de Lisboa esteve no Algarve a dar uma lição e apelou à cooperação entre professores.

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Sampaio da Nóvoa diz não serem "os jovens que precisam de Portugal, é Portugal que precisa das oportunidades que só os jovens podem dar”. Miguel Manso

Um país “paroquial e provinciano” é como o antigo reitor da Universidade de Lisboa António Sampaio da Nóvoa vê Portugal, a partir do ângulo da educação. O académico considera que as “instituições se fecham muito dento delas próprias”, e essa maneira de estar, diz, condiciona a vida política portuguesa.

Sampaio da Nóvoa, actualmente a leccionar no Brasil, foi o convidado da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, para falar sobre “A Infinita Liberdade de Ensinar”. Durante o jantar debate, quinta-feira, em Querença, no Algarve, o ex-reitor defendeu a necessidade de rasgar novos horizontes, colocando as universidades no primeiro plano do processo de transformação do país. “As universidades portuguesas, como aliás todo o país, são muito provincianas, não no sentido pejorativo do termo”, disse.

A resistência à mudança e falta de cooperação, no seu entender, estão na base de muitos problemas actuais. “Não sabemos cooperar – eu acho que esse é o grande problema dos professores, por exemplo – a falta de cooperação no espaço profissional”, enfatizou. Nesse quadro, a polémica questão da mobilidade pode ser entendida como oportunidade. “Somos uma sociedade muito sedentária, resistimos muito a mudar.”

O legado de Agostinho da Silva e Manuel Viegas Guerreiro, dois dos fundadores dos Estudos Gerais Livres – uma forma de levar a liberdade de ensinar e aprender a todas as camadas sociais – serviu de mote à conferência. A universidade, disse Sampaio da Nóvoa, é uma “instituição extraordinariamente cooperativa, temos uma grande dificuldade em avançar. É preciso muita coragem”.

O recém eleito reitor da Universidade do Algarve (Ualg), António Branco, sentado a seu lado, registou a mensagem. “A nossa razão de existir é em tudo contrária à escravidão do espírito e da vida a que a alienação nos conduz quando não lhe resistimos”, disse, há dois dias, no discurso de tomada de posse.

Sampaio da Nóvoa considera que, apesar das muitas resistências que existem dentro da academia, “ligadas a muitos interesses, com lógicas de recrutamento que nem sempre são as melhores”, lembrou que há quem navegue contra a corrente. “Mostrámos na Universidade de Lisboa que há um impulso reformador dentro das universidades”.

O investigador, que se tem dedicado aos estudos da história da educação e da educação comparada, rejeitou a tese dos que defendem que “há uma espécie de vocação que nasce connosco, que nos acompanha toda a vida”, criando na opinião pública a ideia de que “há uns que nascem para ser sapateiros e outros com vocação para médicos".

E recordou uma iniciativa “simbólica” na Universidade de Lisboa no sentido de instituir a liberdade do conhecimento e da educação superior: “Foi criada uma licenciatura que se chama Estudos Geral, e muita gente perguntou: para que serve, o que isto forma?”. Trata-se de uma licenciatura, explicou, em que os alunos escolhem aquilo que querem estudar e são ajudados a compor o seu próprio currículo”. O segundo ciclo de estudos, “esse sim é profissionalizante”, à semelhança do modelo norte-americano.
 

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