O grande Edgar Pêra

O cineasta Kenneth Anger fará 87 anos no dia 3 de Fevereiro de 2014. Escolheu o apelido Anger ("zanga", mais do que "ira", um pecado mais humano do que mortal) para substituir o dele: Anglemeyer.

Tive a sorte de ver alguns filmes dele, ditos vanguardistas, mas apenas originais e livres. A filmografia dele vai de 1941 a 2010. É obra.

Os livros dele (sobretudo Hollywood Babylon, de 1959, e Hollywood Babylon II, de 1986) são obras-primas de abrir os olhos e iluminar as almas da bendita porcaria da humanidade. São livros de desilusão e de verdade. Tanto o grafismo como as fotografias e o texto desencantado que escreve são obras-primas da desilusão iludida.

É nossa grande sorte podermos conhecer a obra cinematográfica e cinematógrafa de Edgar Pêra, de quem sou amigo desde que o conheci, como pessoa e artista, vai para trinta anos.

Os filmes dele abrem-nos os olhos e os ouvidos e forçam as nossas inteligências a redistribuí-los. É muito, muito melhor do que Kenneth Anger – e Kenneth Anger era seriamente bom.

O livro Hollywood que Edgar Pêra escreveu, publicado pela Esfera dos Livros, é uma obra-prima do Cinema; da bisbilhotice; do fascínio pelos realizadores e pelos actores. Oferece o entusiasmo (saudável, de tão doentio) de quem é realmente afectado pelo delírio salvífico dos grandes filmes.

Não se consegue começar a ler o livro e pousá-lo para retomá-lo. O livro dele é uma delícia completa e seguida, que só se chora quando acaba, de repente.
 
 

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