Artur Mas quer negociar referendo da Catalunha com Rajoy

Provável bloqueio dos partidos maioritários a nível nacional leva presidente da Generalitat a apelar ao diálogo com Madrid. A alternativa são as eleições antecipadas.

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Artur Mas durante a apresentação das perguntas do referendo STR/AFP

Depois de ter anunciado a data e as perguntas do referendo sobre a independência da Catalunha, o presidente do Governo catalão, Artur Mas, mostrou-se disponível esta segunda-feira para negociar com o Governo central uma nova formulação. No entanto, a realização da consulta é um ponto de que Mas não irá abrir mão em benefício de um hipotético novo modelo de financiamento autonómico.

“Tentarei sempre dialogar com [o presidente do Governo, Mariano] Rajoy. Apenas peço que nos deixem votar como fazem na Escócia”, afirmou Mas durante uma entrevista à TV3 na segunda-feira à noite. “Se o Governo central pedir, estou disposto a mudar para uma pergunta igual à da Escócia e do Reino Unido. Uma pergunta sobre o Estado independente, sim ou não”, acrescentou.

Em resposta, Rajoy concordou em encontrar-se com Artur Mas, mas fez notar que ambos têm as suas posições já fixadas. “Não sei de que é que vamos falar”, observou o Presidente do Governo espanhol citado pelo La Vanguardia.

Na semana passada, o governo catalão anunciou que o referendo será realizado a nove de Novembro de 2014 e será composto por duas perguntas. A primeira é “Quer que a Catalunha seja um Estado?”, a que se segue, se responder afirmativamente à primeira: “Quer que a Catalunha seja um Estado independente?”

Reagindo ao anúncio, Rajoy não teve contemplações e afirmou que “o referendo é inconstitucional e não se vai realizar.” Pelo mesmo tom, o líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Alfredo Pérez Rubalcaba, sublinhou que “o que foi proposto foi um referendo sobre a autodeterminação, com o qual os socialistas não concordam."

A oposição dos dois partidos mais representados no Congresso dos Deputados – o PP e o PSOE – antecipa o chumbo na câmara nacional à proposta catalã. O El País indica que o Parlamento espanhol não deverá votar a realização do referendo antes de Abril do próximo ano. Antes disso, o Parlamento catalão tem de aprovar o pedido oficial de transferência de competências para a comunidade autonómica, ao abrigo da alínea 2 do artigo 150 da Constituição espanhola, algo que deverá conseguir com facilidade, em virtude da maioria de que dispõem os partidos a favor da consulta.

É o provável bloqueio do Congresso dos Deputados à consulta que está por trás da abertura de Mas ao diálogo. O líder da Generalitat criticou a postura de Rajoy, lamentando que a Constituição seja apresentada como um “muro inultrapassável”.

“Rajoy diz que não vai haver negociação e, por isso, rompe o diálogo e não haverá consulta. Esta é a resposta que um democrata deve dar a esta proposta?”, afirmou Mas. A opção pela negociação era favorecida pelo jornal britânico Financial Times que, no editorial de domingo, defendia que o referendo catalão “é um problema político que requer uma solução negociada.”

Ou referendo ou eleições

As possibilidades de que o Governo autorize a consulta parecem ser mínimas e o próprio Mas não o esconde. Questionado sobre quais as hipóteses de que a consulta se realize, o Presidente catalão afirmou não poder dizê-lo, preferindo garantir que vai trabalhar para que isso aconteça. A alternativa seriam as eleições antecipadas, o que pode colocar a coligação no poder, a Convergência e União (CiU), numa situação delicada, numa altura em que as sondagens atribuem vantagem à Esquerda Republicana. Ainda assim, Mas deixou a porta aberta a essa possibilidade: “Se não há consulta, um dia haverá eleições.”

Durante a entrevista de hora e meia, Artur Mas contornou algumas das questões que mais dúvidas levantam em relação ao processo independentista da Catalunha. Admitiu que, em caso de uma eventual vitória do sim, a região terá de negociar a sua presença na União Europeia (UE) e noutras instituições internacionais, mas não se alongou sobre a possível expulsão do espaço comunitário. Sobre o referendo em si mesmo e sobre a dificuldade em contar os votos de uma consulta bi-etápica, Mas limitou-se a responder que “o importante não é saber como contaremos, mas sim se votaremos.”

Da sua parte, garantiu que, “como pessoa”, votaria sim às duas questões já elaboradas, uma vez que se apercebeu, nos últimos anos, de que “a Catalunha necessita dos instrumentos que têm os povos com populações semelhantes, como a Holanda, a Áustria, a Dinamarca ou a Finlândia.”

Notícia actualizada às 15h20: Acrescentou-se a resposta de Mariano Rajoy.
 

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