A cova do dente da esquerda

A possibilidade de o antigo secretário-geral da CGTP Manuel Carvalho da Silva vir a integrar um movimento integrando bloquistas, ex-comunistas e o novo partido LIVRE, de Rui Tavares, abre a porta a uma redefinição dos equilíbrios políticos à esquerda, nas europeias do próximo ano, para já, e também nas legislativas de 2015, se tudo lhes correr bem.

A diferença, evidentemente, é Carvalho da Silva. Os seus anos de liderança da Intersindical e a sua intervenção pública posterior deram-lhe um lastro político que ultrapassa claramente o espaço político em que se movimenta. A sua inteligência e a sua independência, aliadas a uma combatividade testada no terreno, fazem dele um possível candidato presidencial nessa área política. Nesse sentido, é uma surpresa vê-lo ligado a um projecto partidário.

Antes do mais, é necessário questionar qual é o espaço político em que se movimenta Carvalho da Silva e aqueles que agora buscam o seu apoio.  Diz-se que é a esquerda à esquerda do PS, um espaço entre socialistas e comunistas que não se sabe se é um desfiladeiro intransponível ou o vale dos sonhos. A realidade sendo o que é, esse espaço indefinido entre o PS e o PCP também pode ser definido como a cova do dente da esquerda. Um Triângulo das Bermudas.

A quebra de representatividade do Bloco parece ser uma das motivações deste movimento. Não chega. Tal como não chega a caça ao desânimo da esquerda encetada por Rui Tavares. É claro que é preciso, em primeiro lugar, uma plataforma política consistente que chame esses eleitores descontentes. Mas se quiser ser mais do que um sucedâneo do Bloco (e um prolongar das contradições deste), terá de ser capaz de estabelecer pontos em direcção à ala mais ao centro do PS. O prestígio de Carvalho da Silva permitirá estabelecer inúmeras pontes, mas de pouco servirá se não existir uma proposta política inovadora e se este movimento for vítima do sectarismo que se propõe combater.
 
 
 
 
 

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