Banco de Portugal aponta para recuperação gradual do consumo privado

Projecção para a actividade económica em 2014 revista em alta, com melhoria na procura interna.

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Depois de uma contracção de 6% entre 2011 e 2013, a economia portuguesa deverá recuperar de forma progressiva nos próximos dois anos, com a actividade a crescer à boleia de uma variação positiva, mas ligeira, da procura interna. O Banco de Portugal (BdP) reviu em alta a sua projecção para o produto interno bruto (PIB) em 2014, mostrando-se mais optimista em relação ao comportamento do consumo privado.

No Boletim Económico de Inverno publicado nesta terça-feira, o banco central aponta para um crescimento do PIB de 0,8% em 2014 (a mesma projecção do Governo e da troika), seguido de uma progressão de 1,3% no ano seguinte.

A variação positiva que é agora prevista para o consumo privado constitui a principal alteração nas previsões do BdP para 2014, permitindo a melhoria das projecções para o total da economia. A instituição liderada por Carlos Costa é, aliás, um pouco mais optimista do que o Governo quanto à evolução do consumo privado, prevendo um crescimento ligeiro de 0,3% no próximo ano (contra 0,1% apontados pelo executivo).

Da última vez que tinha apresentado previsões para 2014, no boletim de Verão, o banco central tinha apontado para uma contracção de 1,4% no consumo privado em 2014. E apresentava este resultado sem levar em conta os impactos de eventuais medidas de austeridade que viessem a estar previstas no Orçamento do Estado para 2014. Agora, mesmo levando em conta as medidas de austeridade — que incluem mais cortes nos salários dos funcionários públicos e redução nas pensões do sector público —, o Banco de Portugal aponta para este crescimento do consumo de 0,3%.

Na base desta revisão, segundo o Banco de Portugal, está, por um lado, uma redução bastante pequena do rendimento disponível real, ao contrário do que aconteceu nos anos anteriores. O banco acredita que o aumento do emprego vai compensar em larga medida o impacto negativo da austeridade. Por outro lado, as previsões partem do princípio de que a melhoria dos indicadores de confiança vai conduzir a uma redução ligeira da taxa de poupança –isto é, diz a entidade liderada por Carlos Costa, o aumento do emprego trava a redução do rendimento disponível e o aumento da confiança faz com que as pessoas gastem uma maior percentagem daquilo que ganham, especialmente em bens duradouros.

A “progressiva recuperação” que é projectada para a procura interna no horizonte de 2014 e 2015 será, no entanto, condicionada “pelo processo de consolidação orçamental e de desalavancagem do sector privado, e pela manutenção de condições desfavoráveis no mercado de trabalho”. Graças a “alguma recuperação do rendimento disponível” em 2015, espera o banco central, é projectada uma estabilização da taxa de poupança, mas o facto de o desemprego continuar elevado deverá continuar condicionar a poupança por motivos de precaução, dado o clima acentuado de incerteza.

"Ligeiro crescimento" do emprego
Já para o consumo público, que continua a recuar, é projectada uma contracção de 2,3%, menor do que a esperada pelo Governo (uma diminuição de 2,8%). O investimento, prevê o banco central, deverá crescer 1%, depois de uma contracção de 8,4% este ano, seguindo-se um crescimento de 3,7%.

Para as exportações, — que, este ano, cresceram a um ritmo de 4% até Outubro e deverão apresentar uma variação de 5,9%, segundo o banco central — é esperado um “crescimento forte”, embora a um “ritmo inferior ao observado no período anterior à crise financeira”. Em 2014, estima-se que as vendas ao exterior cresçam 5,5%, ao mesmo tempo que as importações deverão aumentar 3,9%.

Quanto ao emprego, que tem vindo a cair de forma acentuada nos últimos anos, o Banco de Portugal não divulga taxas de variação, mas projecta uma cenário de “ligeiro crescimento” em 2014 e 2015 (para o próximo ano, o Governo projecta uma destruição de emprego de 0,4%). Mas, na evolução do mercado de trabalho, e no período 2011-2015, “o emprego deverá apresentar uma queda acumulada superior à da actividade, com uma redução significativa do emprego público, mas também extensiva ao sector privado”. Neste horizonte de projecção, o banco central prevê “algum aumento dos salários do sector privado”, contribuindo para que “os custos unitários do trabalho no sector privado apresentem uma variação positiva, embora reduzida, em 2014 e 2015”.
 

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