Borboletas: 500 mil espécies prováveis

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Adriana Galveias

Os invertebrados, e em particular os insetos, constituem o grupo de maior diversidade animal em número de espécies e biomassa. Dentro deste grupo, destacam-se as borboletas (ordem Lepidoptera), que desde sempre atraíram a atenção dos biólogos, profissionais e amadores, pela variedade de cores, formas e padrões das suas asas. É um grupo sistemático relativamente bem conhecido, quando comparado com outros grupos de insetos.

De acordo com os estudos mais recentes, estão descritas entre 146.000 a 165.000 espécies de borboletas espalhadas por vários tipos de habitats, desde as regiões mais frias, passando pelas temperadas até à explosão da sua diversidade nas florestas tropicais. Admite-se no entanto que estes números possam atingir as 500.000 espécies.

Em Portugal existem 137 espécies de borboletas diurnas e mais de 2500 borboletas noturnas. Este grupo de insetos ainda se encontra pouco estudado, pelo que todos os anos se descobrem espécies novas.

As primeiras borboletas apareceram há mais de 200 milhões de anos. As espécies primitivas tinham mandibulas em vez de um tubo flexível, a espirotrompa, e usavam-nas essencialmente para recolher os grãos de pólen. O aparecimento do aparelho bucal na forma de espirotrompa permitiu que as borboletas passassem a alimentar-se de fluidos açucarados, como o néctar das plantas ou sumo de frutas maduras.

O grande “boom” da diversidade dos lepidópteros ocorreu no Cretácio, época em que apareceram as plantas com flor e as borboletas diurnas (Ropalocera).

As borboletas estão intimamente relacionadas com as plantas. Durante a sua fase larvar, são espécies fitófagas, que se alimentam de uma pequena variedade de plantas ou de uma única espécie vegetal. Este vínculo relativamente à sua planta hospedeira faz com que a área de distribuição das borboletas seja em parte condicionada pela própria distribuição das plantas.

Tal como as abelhas, as borboletas são polinizadoras, sendo por isso fundamentais para a dispersão das plantas, cujo pólen pode ser levado a grandes distâncias nas espécies mais móveis. Por outro lado, as nutritivas lagartas e as borboletas adultas mais volumosas constituem um excelente alimento, contribuindo assim para o equilíbrio das cadeias tróficas. Os morcegos e muitas aves insectívoras teriam muita dificuldade em sobreviver se não fossem as borboletas, o seu alimento favorito.

A composição e abundância específica das borboletas de uma determinada área são um excelente indicador do habitat e do seu estado de conservação. Além disso, podem detetar aspetos mais particulares, tais como excesso de pressão exercida pelo gado ou contaminantes químicos, que de outra forma seriam difíceis de detetar.

Assim, o estudo das comunidades de borboletas e a sua distribuição geográfica poderá dar-nos uma medida do estado de “saúde” do habitat e ser muito útil na delimitação de áreas naturais que necessitem de medidas de proteção urgentes.

Morfologia
As borboletas pertencem ao grupo dos insetos. Este grupo caracteriza-se por ter um par de antenas, três pares de patas e o corpo segmentado em três partes: cabeça, tórax e abdómen.

Na cabeça inserem-se os órgãos sensoriais como os olhos, as antenas, os palpos labiais e a espirotrompa. O tórax é a zona do corpo onde se inserem as quatro asas e as seis patas. O abdómen é a região do corpo que acolhe importantes órgãos internos.

No que respeita à diferenciação entre macho e fêmea, também nem sempre é possível fazer com clareza a distinção. Normalmente os machos são mais atraentes e apresentam androcónios nas asas, glândulas produtoras de feromonas (substâncias odoríferas) usadas para atrair as fêmeas. Os machos da borboleta-Cleópatra, por exemplo, apresentam duas manchas androconiais laranjas nas asas anteriores. 

As espécies diurnas possuem asas mais coloridas e em repouso fecham as asas na posição vertical. As borboletas noturnas em geral apresentam asas mais escuras que pousam numa posição horizontal. Outra característica que permite distinguir estes dois grupos é a forma das antenas. Nas diurnas, as antenas são quase sempre filiformes, em forma de maça ou clava, e nas noturnas apresentam uma grande diversidade de formas. Outra característica é a inexistência do frenulum (fio que une a asa anterior e a posterior) nas borboletas diurnas.

Ciclo de vida
As borboletas apresentam metamorfose completa. Quer isto dizer que à medida que se vão desenvolvendo vão ocorrendo mudanças na forma e na estrutura do corpo.

O ciclo de vida das borboletas ocorre ao longo de quatro fases: ovo, lagarta, crisálida e adulto.

A duração média do ciclo de vida de uma borboleta pode variar consoante a espécie e as condições ambientais da época do ano. Por exemplo, a borboleta-monarca apresenta múltiplas gerações ao longo do ano, completando o seu ciclo de vida em menos de um mês. Já a borboleta-carnaval pode passar mais de um ano na forma de crisálida, emergindo apenas no ano seguinte caso as condições ambientais sejam favoráveis. Um outro exemplo curioso é o da borboleta-do-medronheiro, que passa os longos e frios meses de Inverno a hibernar na forma de lagarta, apenas voltando a alimentar-se quando chegarem os dias mais quentes.

Livros
Maravalhas, E. (ed) (2003). As Borboletas de Portugal. Vento Norte.

Carter, D.J., Hargreaves, B., 1994. Collins Field Guide – Caterpillars of Britain and

Europe. Harper Collins Publishers, London.

Leraut, P. (2007). Insectos de España y Europa. Lynx.

Tolman, T., Lewington, R., 1997. Butterflies of Britain and Europe. Harper Collins, London.

Sites
http://butterfly-conservation.org/

http://www.bc-europe.eu/

http://www.leps.it/

http://naturdata.com/ww.lusoborboletas.org

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