Londres quer vender a sua parte na Eurostar

Britânicos têm 40% da empresa ferroviária de alta velocidade que atravessa o canal da Mancha

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A Eurostar liga Paris, Londres e Bruxelas GARETH FULLER/AP

Vinte anos depois do seu lançamento, Londres anunciou nesta quarta-feira a sua intenção de vender a participação de 40% que detém na companhia ferroviária Eurostar que atravessa o túnel do canal da Mancha.

"Este é um dos activos que acreditamos que poderia ser vendido em 2020", disse ao canal Sky News o ministro adjunto do Tesouro, Danny Alexander.

À procura de capital para investir em infra-estruturas nesta altura de vacas magras, a coligação governamental, que na quarta-feira apresentou o seu novo plano de investimento em infra-estruturas nacionais, decidiu duplicar o objectivo de encaixe das privatizações até 2020 para 20 mil milhões de libras (24 mil milhões de euros). Este anúncio segue-se às críticas feitas ao Governo por alegadamente ter subvalorizado o valor da Royal Mail na sua privatização.

Para atingir esta meta dos 20 mil milhões muito contribuiria a venda de 40% por cento que o Reino Unido, através da empresa estatal London & Continental Railways, detém na empresa ferroviária que explora o comboio de alta velocidade entre Londres, Paris e Bruxelas. Os outros 55% são propriedade da ferrovia francesa SNCF e 5% da empresa ferroviária belga SNCB.

O dinheiro desta venda "poderia ser reinvestido em infra-estruturas do país", disse Danny Alexander. Mas “não foi tomada ainda nenhuma decisão", assegurou, insistindo que qualquer venda "não será necessariamente neste ano ou no próximo", mas até 2020. Sem especificar a quem a participação britânica poderia ser vendida – SNCF e/ou SNCB ou investidores privados – o ministro sublinhou, no entanto, que o Estado deve vender os activos públicos, que podem "ser mais bem geridos pelos privados".

Contactada pela AFP, a SNCF não quis comentar e a Eurostar manteve o mesmo silêncio. Mas para o autor e jornalista especializado em transportes, Marc Fressoz, citado pela AFP, "o Eurostar é um mercado maduro, a empresa afastou o avião das rotas Paris-Londres e Londres-Bruxelas." "Este é o momento certo para vender" e "SNCF ou SNCB, ou ambos, podem ficar tentados em aumentar a sua quota", acrescenta


Reviravolta num momento-chave para a Eurostar
Quase vinte anos após a inauguração, a 6 de Maio de 1994, do túnel sob a Mancha por Margaret Thatcher e François Mitterrand, e o lançamento a 14 de Novembro do mesmo ano da Eurostar, a decisão do Governo britânico é uma reviravolta para a empresa, nascida do desejo da interligação por comboio de Paris e Londres.

Além disso, este é também um momento crucial, já que a concorrência está a chegar ao túnel. A Deutsche Bahn recebeu, em meados de Junho, luz verde para operar nestes carris. Os primeiros comboios da empresa alemã – que vai ligar Londres a Frankfurt via Colónia e Bruxelas, e a Amsterdão via Roterdão – devem começar a circular em 2016.

De óptima saúde financeira, a Eurostar viu o seu lucro rondar os 91 milhões de libras no ano passado (cerca de 110 milhões de euros), contra 20,8 milhões em 2011. Os passageiros aumentaram 2% no último ano, para 9,9 milhões. E este bom desempenho continuou no terceiro trimestre deste ano, em que a empresa registou um aumento superior a 10% nas vendas e de 5% no tráfego.

 
 
 

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