Estrangeiros posicionam-se como grandes accionistas dos CTT

Preço de venda foi fixado em 5,52 euros, permitindo elevar encaixe para 580 milhões. Resultado final da operação será divulgado nesta quarta-feira, seguindo-se a estreia em bolsa.

Correios vão deixar de ter o Estado como accionista em breve Miguel Madeira

Os estrangeiros vão garantir uma fatia importante do capital dos CTT, já que a maioria da procura por acções destinadas a investidores institucionais teve origem no exterior. O Governo fixou na terça-feira o preço para venda das acções dos correios em 5,52 euros, no limite máximo do intervalo que tinha sido inicialmente definido, o que permitirá um encaixe de cerca de 580 milhões. Quinta-feira está prevista a estreia da empresa em bolsa.

Na terça-feira, numa conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio do preço final da privatização dos CTT, o secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações não quis adiantar pormenores sobre a origem e perfil dos investidores institucionais que fizeram ordens de compra. Sérgio Monteiro referiu apenas que “a maioria da procura vem do exterior”. Questionado sobre o preço fixado para a operação, que corresponde à barreira superior de um intervalo que, no arranque da operação, tinha sido estabelecido entre 4,10 e 5,52 euros, o governante respondeu que “é adequado e justo” porque “teve em consideração as ofertas recebidas”.

O preço fixado pelo Governo permitirá um encaixe de cerca de 580 milhões de euros, já que serão dispersados 105 milhões de acções, representativos de 70% do capital da empresa. Estas receitas vão acrescer aos 4492 milhões arrecadados com privatizações conduzidas pelo actual Governo, especificamente a venda de participações na EDP e na REN e a alienação de 100% da ANA. Tal como o PÚBLICO noticiou na terça-feira, 90% desta verba foram usados para pagar dívida.

Com o preço definido pelo executivo, os correios ficaram avaliados em 828 milhões, tendo em conta a totalidade do capital. O Estado manterá, no médio prazo, o controlo de 30%, sendo que ficou definido que não poderá aliená-lo até Agosto do próximo ano. No entanto, o Governo já manifestou a intenção de retirar por completo os CTT da esfera pública.

Nas duas operações de venda que serviram de inspiração à privatização dos correios nacionais, foram definidos preços muito próximos ou no patamar superior. No caso da belga Bpost, que dispersou em Junho 30% do capital em bolsa, foi fixado um valor de 14,5 euros por acção, quando o intervalo inicial variava entre 12,5 e 15 euros. E, mais recentemente, o Governo britânico decidiu-se pela barreira superior de 330 pence (perto de quatro euros, ao câmbio actual), quando o intervalo ia de 260 a 330 pence, na oferta pública de venda de 60% do Royal Mail.

Só nesta quarta-feira serão apresentados os resultados finais da operação, numa cerimónia que decorrerá nas instalações da Bolsa de Lisboa. Até agora, é conhecida apenas a evolução da procura junto de pequenos investidores, sendo que os últimos dados, divulgados na sexta-feira, mostravam que ultrapassava em dez vezes a oferta. Já no que se refere aos trabalhadores, a adesão foi fraca, tendo sido dadas ordens de compra de 1,8 milhões de acções até àquela data, quando a fatia disponível era de 5,25 milhões. O que restar do capital a alienar aos funcionários será disperso junto dos pequenos investidores, que tinham 15,75 milhões de acções reservadas, representativas de 10,5% do capital dos correios.

Já aos grandes investidores foram destinadas 74 milhões de acções, que correspondem a 50% dos CTT. Este lote foi vendido às quatro instituições financeiras escolhidas pelo Governo para apoiar esta operação (JP Morgan, Caixa Bi, BESI e BBVA) e que são responsáveis pela sua dispersão no mercado. Há ainda um lote suplementar de nove milhões de acções que foi mantido sob reserva na Parpública, por motivos de estabilização de preço, mas que também deverá ser alienado a investidores institucionais. Quinta-feira será o dia de estreia da empresa em bolsa.

Na conferência de imprensa de terça-feira, o secretário de Estado das Infra-estruturas, Transportes e Comunicações aproveitou para responder às críticas que foram feitas quando o executivo optou pelo modelo de dispersão em bolsa, em detrimento da venda directa a investidores de referência. “O resultado [da operação] mostra que esse diagnóstico não corresponde à realidade”, afirmou Sérgio Monteiro.

Já o secretário de Estado das Finanças considerou que a privatização dos CTT “mostra um novo ciclo de regresso da confiança”, que está “correlacionado com o desempenho da economia” nacional. Manuel Rodrigues acrescentou que o interesse registado junto dos investidores “deve-se à qualidade da própria empresa” e vem dar “um contributo decisivo para revitalizar o mercado de capitais” em Portugal. 

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