Editorial: Ucrânia, uma guerra morna entre Bruxelas e Moscovo

A chanceler alemã, Angela Merkel, queixou-se nesta quinta-feira, em Vilnius, das pressões de Moscovo que levaram a Ucrânia a desistir do acordo de associação com a União Europeia.

"A guerra fria acabou", disse a chanceler. No entanto, o "não" do Presidente ucraniano, Viktor Ianukovitch, a um acordo cuja negociação foi muito difícil mostra que um novo conflito está a começar entre Moscovo e Bruxelas.

É importante que os europeus estejam conscientes disso e do que está em jogo. Não se trata de uma "guerra fria", à antiga, mas de uma guerra morna. Em vez de blindados estacionados há ofensivas comerciais e diplomáticas ásperas. Vladimir Putin ameaçou bloquear as importações ucranianas caso Kiev cometesse a ousadia de se associar à Europa: uma ameaça mortal. O objectivo russo é integrar a Ucrânia numa União Aduaneira que na prática é uma forma de voltar a estender a influência de Moscovo às antigas fronteiras da União Soviética.

O impasse ucraniano, que está na mesa da cimeira da UE com seis antigas repúblicas soviéticas (apenas a Moldávia e a Geórgia assinarão acordos de associação), é o resultado de vários equívocos. O Presidente Ianukovitch, considerado um pró-russo, seguiu sempre a estratégia de não escolher entre a Rússia e a UE. Bruxelas, onde há muitas reservas em relação à Ucrânia, confrontou-se sempre com a recusa de Kiev em aceitar as múltiplas incompatibilidades do regime ucraniano com as exigências de Bruxelas.

Vladimir Putin não hesitou em agir quando sentiu que o acordo de associação se ia concretizar. Ele sabe que esse acordo é uma ameaça ao seu poder. O recuo de Ianukovitch é o primeiro passo e não o fim da história. Em Kiev, os cidadãos voltaram à rua e a polarização entre Leste e Oeste, que sempre dividiu a Ucrânia, voltou à ordem do dia. A Europa perdeu uma batalha mas não pode desistir da guerra. Estão em causa a liberdade dos ucranianos e a liberdade nas fronteiras da União Europeia.

 
 
 
 

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