Portugal é o terceiro país europeu com maior taxa de novos casos de sida

"Os dados demonstram que 49% das pessoas com testes positivos de HIV na União Europeia são diagnosticadas numa fase tardia da infecção, o que significa que precisam de terapia anti-retroviral imediatamente”, sublinhou o director do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças.

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Testes rápidos para detecção de HIV/sida permitem diagnósticos mais precoces AFP

A epidemia de HIV/sida está a abrandar no espaço de 29 países que constituem a União Europeia/Espaço Económico Europeu: o número de novos diagnósticos subiu apenas 1%. Portugal enquadra-se nesta tendência de desaceleramento, mas há um sinal de alerta que remete para a realidade dos diagnósticos tardios: é o terceiro país com a maior taxa de novos casos de sida (a fase mais avançada da doença), regista o relatório onde o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças (CEPCD) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) da Região Europeia fazem o balanço da infecção com base em números do ano passado.

Não há ainda sinais de decréscimo. “O HIV continua a ser um grande problema de saúde pública na União Europeia”, refere o relatório tornado público esta quarta-feira. Em 2012, mais de 29 mil novos casos foram diagnosticados na União Europeia e Espaço Económico Europeu (inclui a Noruega e Islândia), o que se traduz numa taxa de 5,8 novos casos por 100 mil pessoas. Os cinco países com taxas mais altas foram a Estónia (23,5), Letónia (16,6), Bélgica (11,1), Reino Unido (10,3) e Luxemburgo (10,3). As mais baixas registaram-se na Eslováquia (0,9) e Croácia (1,7).

Portugal encontra-se acima da média europeia, com sete casos por 100 mil habitantes, mas tem nove países com piores números. O documento assinala que, em Portugal, desde 2006, a taxa de novos casos de HIV desceu 20%, tal como aconteceu na Dinamarca, França e Estónia. No extremo oposto estão a Grécia, República Checa, Roménia e Hungria, onde os números de notificações de infecção por HIV mais do que duplicaram.

Já quando se analisa as notificações de sida (o estádio mais avançado da infecção), Portugal aparece numa situação bastante mais desfavorável. Em 2012 foram diagnosticados 4313 casos pelos 29 países europeus analisados e aqui as taxas mais altas foram na Letónia (6,8), Estónia (2,7) e Portugal (2,4).

No relatório nacional sobre o HIV/sida, apresentado em Junho deste ano (com dados de 2012), o peso demasiado elevado dos doentes com sida era já tido como um dos dados mais alarmantes: em Portugal, quase um terço (31,8%) dos infectados foram detectados já “no último estádio da doença, o mais avançado”. O que significa que são pessoas que já têm pelo menos uma doença associada que é indiciadora de um sistema imunitário deprimido, explicou na altura ao PÚBLICO a coordenadora do relatório, Helena Cortes Martins, investigadora do Núcleo de Vigilância Laboratorial de Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

Desde os meados da década de 90 que os números de novos casos de sida têm vindo a decrescer na Europa, assinala o relatório. A média europeia é de 0,8 por 100 mil habitantes, sendo que desde 2006 os casos de sida tiveram um decréscimo de 48%, de 8213 casos (1,6 por 100 mil) em 2006, passaram para 5520 (1,1 por 100 mil) em 2011.

“Os dados demonstram que 49% das pessoas com testes positivos de HIV na União Europeia/Espaço Económico Europeu são diagnosticadas numa fase tardia da infecção, o que significa que precisam de terapia anti-retroviral imediatamente, porque o seu sistema imunitário está a começar a entrar em falência”, sublinhou o director do ECDC, Marc Sprenger. “Isto mostra que precisamos de tornar os testes HIV mais disponíveis na Europa para assegurar diagnósticos mais precoces e tratamentos e cuidados mais eficazes”.

O relatório dá também um retrato da doença numa Europa mais alargada, correspondente à região europeia da OMS (53 países, incluindo a Rússia): mais de 131 mil novas infecções foram notificadas, mais 10 mil do que no ano anterior (8%). As maiores subidas acontecem na Europa de Leste e países da Ásia Central e menos de 1% na região da União Europeia e Espaço Económico Europeu.

O número total inclui mais de 55 mil novos diagnósticos de infecções por HIV em 2012 reportados à ECDC e OMS, e quase 76 mil novos casos foram registados pelas estatísticas oficiais da Federação Russa.

Embora as notificações de novos casos de sida tenham diminuído 48% na União Europeia entre 2006 e 2012, o número de pessoas diagnosticadas com sida subiu 113% na parte leste da região. Esta subida está associada a uma baixa cobertura de medidas de prevenção e de terapia anti-retroviral. O número de pessoas medicadas aumentou de 2011 para 2012, mas, ainda assim, representam apenas uma em cada três pessoas que precisariam da medicação anti-retrovírica.

“Sabemos agora que dar terapia anti-retrovírica mais cedo vai permitir que as pessoas com HIV vivam mais tempo e com mais saúde, e reduz o risco de transmissão a outros”, acrescenta Zsuzsanna Jakab, directora da Organização Mundial de Saúde da região europeia. “Embora não estejamos no fim da epidemia de HIV na Europa, o nosso objectivo de travar a propagação do HIV em 2015 ainda é exequível em muitos países”.
 
 
 
 
 
 

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