Todos os dias morrem 13 pessoas com diabetes em Portugal

Relatório anual do Observatório Nacional da Diabetes divulgado esta terça-feira diz que há cada vez mais pessoas seguidas nos centros de saúde e que o custo dos medicamentos baixou no ano passado.

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Com estilos de vida associados ao sedentarismo e à obesidade, a diabetes (de tipo 2) tem vindo a ganhar cada vez mais peso Daniel Rocha (arquivo)

Foram 4867 mortes no ano passado (mais 331 do que em 2011), o número mais elevado desde que há registos, refere o relatório anual onde o Observatório Nacional da Diabetes faz o balanço anual desta doença que afecta cerca de um milhão de portugueses. Todos os dias morrem em Portugal 13 pessoas com diabetes.

A tendência não é portuguesa, é do mundo ocidental. Com estilos de vida associados ao sedentarismo e à obesidade, a diabetes (de tipo 2) tem vindo a ganhar cada vez mais peso. Em Portugal, por ano, tem crescido 3,8%. Na faixa etária dos 60 aos 79 anos são já 27%, em idades mais jovens os números são bastante inferiores, dos 20 aos 39 anos são 2% mas esta proporção já tem significado, disse Luís Gardete Correia, presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal. "Eram números insignificantes há uns anos atrás. O aumento nesta faixa etária vai levantar problemas no futuro".

Há cerca de dois milhões de portugueses que podem ser considerados pré-diabéticos. São uma população em que se pode ainda agir, disse Gardete Correia. Se forem tomadas medidas, "só metade passarão a diabéticos". 

Quando esta doença vascular é declarada pode ter manifestações em quase todo o organismo. Em termos cardiovasculares, 27,9% das pessoas que sofrem um AVC foram diagnosticadas com a patologia, 31% no caso do enfarte. Pode também afectar os rins, 28% dos doentes a fazer hemodiálise têm diabetes. As pessoas com diabetes vivem em média menos 7 anos do que quem não sofre da doença, refere o documento que foi apresentado esta terça-feira em Lisboa.

O relatório apresenta vários "sinais de alerta", um deles é o facto de 27,41% dos doentes com diabetes que estiveram internados por descompensação ou complicações associados à doença terem precisado de ser de novo hospitalizados (em 2010 este casos tinham sido 11%). O secretário de Estado da Saúde, Leal da Costa, diz que têm que ser estudadas as causas deste número. Podia pensar-se que estão a ser dadas altas demasiado precoces, disse, mas o responsável notou que, pelo contrário, os dias de internamento nestes doentes tendem a ser maiores dos que os restantes doentes (6,3 dias face a 3,5). Nos hospitais públicos 23,5% das mortes registadas no ano passado são de pessoas com a doença.

Mas o documento tem também boas notícias. Desde logo que está a aumentar a vigilância médica destes doentes, nos centros de saúde a taxa de cobertura é de 81,9%. Mas, ainda assim, foi insuficiente para impedir o aumento das amputações, umas das complicações associadas à doença – foram feitas 730 amputações major (de pernas e pés) no ano passado, mais 60 do que em ano anterior, invertendo uma tendência de descida que se vinha sentindo desde 2009.

O relatório dá conta de grandes diferenças em termos regionais e, no caso das amputações, a zona Sul (sobretudo o Alentejo), apresenta números  piores: as amputações por complicações da diabetes atingiram um nível de 15,5 por 100 mil habitantes, o Algarve 10,6 por 100 mil habitantes, face a 7,3 em termos de todo o Sistema Nacional de Saúde. Luís Gardete Correia atribui estes valores no Alentejo ao facto de "haver grandes distâncias para aceder aos serviços" associado ao custo dos transportes e ainda à existência de "uma população muito envelhecida". 

A forma de evitar amputações implica observações regulares dos pés para detectar lesões antes de estas se complicarem. O director do Programa Nacional para a Diabetes, José Manuel Boavida, constatou que "a observação do pé diabético nos cuidados primários [centros de saúde] duplicou desde 2011, está em 58%, mas ainda é pouco. O registo de observação dos pés é algo tão simples", comentou.

Outras das complicações mais graves associadas à diabetes é a cegueira devido à chamada retinopatia diabética. O Programa de Prevenção e Controlo da Diabetes previa, até ao primeiro trimestre de 2008, a implementação regional e nacional de rastreio sistemático e tratamento da retinopatia, mas esta está longe de ser uma realidade. Só 15% das pessoas inscritas em centros de saúde fazem rastreio, disse José Manuel Boavida. Um dos dados que falta a este relatório é precisamente o número de pessoas que ficam cegas ou com baixa visão devido à diabetes. O consumo de medicamentos para a diabetes aumentou em 2012, mas o valor pago pelos utentes diminuiu pela primeira vez em dez anos, refere o relatório. Os custos da diabetes representam entre 8 a 9% da despesa em saúde.
 

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