Benfica é o clube com custos mais elevados

Três grandes com gastos inéditos de 378,2 milhões. Benfica superou investimento do FC Porto, mas sem reflexos no sucesso desportivo.

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A venda de Witsel (na foto) e de Javi García não chegou para o Benfica ter lucro Francisco Leong/AFP
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As vendas de James e Moutinho permitiram ao FC Porto ter lucro nFactos/Fernando Veludo
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A saída de jogadores como Wolfswinkel permitiu ao Sporting reduzir custos e encaixar algum dinheiro com transferências, ainda assim insuficiente para evitar prejuízos Francisco Leong/AFP

A rivalidade entre os clubes não se faz sentir apenas dentro do campo, nas bancadas ou nos debates televisivos. Os relatórios e contas da última época revelam uma escalada nos gastos. O Benfica foi o clube que mais gastou em 2012-13, com custos globais que atingiram os 145,7 milhões de euros (ME). Logo a seguir surge o FC Porto (137,7 ME) e o Sporting (94,8). Estas contas, feitas para o PÚBLICO por António Samagaio, professor do ISEG, com base nos relatórios e contas das SAD, englobam não só a massa salarial (e os outros gastos operacionais), mas também os custos com transferências de jogadores e os custos financeiros.

O FC Porto até teve custos com pessoal ligeiramente superiores aos do Benfica (50,8 milhões contra 48,1), mas numa perspectiva mais global a SAD liderada por Luís Filipe Vieira tem investido mais do que a sociedade comandada por Pinto da Costa.

Outro aspecto revelador de que os clubes não têm olhado a gastos para tentarem vencer em campo é o custo do plantel, que tem em conta o “dispêndio efectuado pelos clubes na aquisição e renovação de contratos com os jogadores” que compõem o plantel, explica António Samagaio. Também aqui o Benfica surge à frente, com um custo de 174,7 milhões no plantel que tinha em Junho deste ano, contra 120,7 milhões do FC Porto e 54 milhões do Sporting. Os “encarnados” tinham 75 jogadores no plantel, mais do que Sporting (39) e FC Porto (37).

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No capítulo do custo do plantel, o Benfica está em crescendo, tendo passado de 129 ME em 2009-10 (última época em que foi campeão) para os actuais 174 ME. Já o FC Porto atingiu o pico em 2011-12 (156,8 ME), antes de baixar na época passada para os 120,8 ME.

Nas últimas épocas, diz António Samagaio, “a FC Porto SAD e a Benfica SAD procuraram desenvolver um modelo de negócio semelhante, isto é, investimento em plantéis para competir nas provas nacionais e internacionais, valorização jogadores para posterior venda e diversificação das fontes rendimentos”. Só que os portistas apresentaram um “melhor desempenho desportivo” e resultados financeiros menos negativos.

Nas últimas cinco épocas, o FC Porto acumulou prejuízos de 10 ME, oito vezes menos do que os 83,6 ME do Benfica – nesse período, o FC Porto somou 13 títulos (quatro campeonatos, uma Liga Europa, três Taças de Portugal e cinco Supertaças) contra cinco do Benfica (um campeonato e quatro Taças da Liga).

O Sporting, por sua vez, acumulou nas últimas cinco épocas prejuízos de 173,6 ME”, período em que os salários aumentaram 15,1% ao ano. “Perante este cenário não era difícil de prever que a Sporting SAD caminhava a ‘galope’ para uma situação financeira insustentável”, sublinha António Samagaio.

O Sporting, entretanto, já começou a inverter caminho, sob a gestão de Bruno de Carvalho. Em Setembro, o presidente "leonino" revelou que os custos com pessoal previstos para a actual temporada foram reduzidos de 44,7 milhões para 26,7 ME. E os custos com plantel, que rondavam os 70 milhões, caíram para 54 milhões. Uma inversão obrigatória para um clube que na época passada obteve 32 ME em receitas operacionais, bem menos do que os 41,6 ME que gastou em salários.

Do lado das receitas, também há um fosso entre Sporting e os dois rivais, Benfica e FC Porto. Na época passada, o FC Porto encaixou 158,7 ME, o Benfica recebeu 134,9 e o Sporting ficou-se pelos 51,3. O encaixe dos portistas deveu-se em grande medida às transferências de James Rodríguez, Moutinho e Hulk, que em valor bruto superou os 110 milhões – só que descontados os acertos contabilísticos, as comissões de empresários e as parcelas de outros detentores dos passes, os ganhos situaram-se nos 76,4 milhões. O mesmo aconteceu com o Benfica – as transferências de Witsel e Javi García renderam 60 milhões, mas em termos líquidos significaram 43,8 ME.

Ainda no capítulo das receitas, o FC Porto depende fortemente da venda de jogadores para superar os rivais nas receitas, já que nos proveitos operacionais (publicidade, patrocínios, bilheteiras, etc) o Benfica está claramente acima dos rivais. Na época passada, o clube da Luz encaixou 72,9 ME em proveitos operacionais, bem acima dos 57,9 do FC Porto e dos 32 do Sporting, isto numa altura em que recebia menos quatro a cinco milhões de euros do que os rivais em direitos televisivos, por via de não ter renovado contrato com a Olivedesportos.

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