Professores saem à rua contra prova de avaliação e cortes no Superior

Dois protestos diferentes em Lisboa: ao início da tarde, cerca de 40 professores do ensino superior concentraram-se junto ao Ministério da Educação. À noite, meia centena acendeu velas no Rossio contra a prova de avaliação de professores contratados.

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À frente do Ministério da Educação, professores e investigadores do superior concentraram-se por uma carreira "justa" Miguel Madeira

Durante a tarde de sábado cerca de 40 professores e investigadores do ensino superior estiveram reunidos frente ao Ministério da Educação para lutarem "por uma carreira digna e justa". Horas depois professores contratados, efectivos e até aposentados mostraram a sua indignação em relação à prova de avalização dos contratados numa vigília na Praça do Rossio.

"Chega de mentiras e erros 'cratos', dizia uma das faixas que recebia os professores do ensino superior e investigadores que se concentram às 15h de sábado frente ao Ministério da Educação em Lisboa para lutarem "por uma carreira digna e justa e pelo Estado de Direito".

António Vicente, líder do Sindicato Nacional do Ensino Superior, considera que o Orçamento do Estado para 2014 (OE2014) “agrava ainda mais a situação das instituições, dos docentes e dos investigadores". O líder sindical refere-se aos 40% de corte no ensino superior que, na sua opinião e na opinião dos reitores, é um "corte cego", e "não deixa qualquer margem para que as instituições possam garantir a qualidade no ensino e na investigação".

Se hoje tivesse oportunidade de falar com o ministro Nuno Crato, António Vicente dir-lhe-ia que "já chega" e contaria que a palavra que mais lhe chega por parte dos docentes e investigadores de todo o país é "desespero".

De acordo com as contas do Snesup, o OE2014 vai trazer reduções salariais médias de 12% para docentes e investigadores, e uma redução de verbas a transferir para as instituições, que se vão somar a cortes na ordem dos 27%, efectuados nos últimos cinco anos. O protesto surge numa altura em que o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas anunciou um corte de relações com o Governo.

Mila Abreu é professora na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e aproveitou estar em Lisboa para comparecer à concentração. Mila foi uma das professoras que enviou uma carta de felicitação a Nuno Crato  quando este tomou posse. Hoje está "profundamente desiludida" porque se sente "abandonada". Teme que os cortes ameacem a subsistência da universidade do interior.

Eram 19H em ponto quando se acenderam as primeiras velas da vígilia que foi marcada através do Facebook na praça do Rossio. Cerca de meia centena, no total, manifestaram assim o seu desagrado com as provas de avaliação de professores contratados.

José Oliveira é um dos muitos professores que promete fazer greve no dia 18 de Dezembro por considerar que a prova “não avalia nada, vale zero e não faz qualquer sentido”.

Compareceram outros professores efectivos que se recusam a vigiar ou corrigir a prova. “Se nós participarmos neste ataque aos nossos colegas só podemos estar certos de uma coisa: os próximos somos nós”, explicou uma professora que preferiu não ser identificada.

Maria Domingues ensinava português, está desempregada. “Sou a favor do rigor mas avaliem-nos de outra forma. Eu deixava o ministro Nuno Crato assistir à minha aula porque é na prática que os professores devem ser avaliados”, advogava a professora que entre 2002 e 2010 se sujeitou a dar aulas a recibos verdes.

“O ministério está a por em causa todo o sistema de ensino em Portugal porque estes professores já foram avaliados”, explica Elizabete Dias, professora aposentada. “Isto é fazer uma selecção perigosa, a selecção natural e vai acabar por fazer com que muitos professores trabalhem por qualquer preço, é uma farsa”, rematou.

Durante a vigília um megafone andava de mão em mão, a mensagem era unânime: “A prova é uma manobra do governo para pôr mais professores na rua”, “é um ataque à escola pública”.

 
 
 
 
 
 
 

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