Seguro faz do Orçamento “teste” ao empenho de Passos Coelho no “consenso”

Líder do PS afirma que, para haver consenso, é preciso haver entendimentos sobre propostas concretas

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Seguro encerrou a conferência da Tendência Sindical Socialista Miguel Manso

O secretário-geral do PS, António José Seguro, aproveitou o encontro de sindicalistas socialistas, realizado esta terça-feira em Lisboa, para devolver o “desafio” para o consenso do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Foi um recado para fora de uma sala, onde, durante a tarde de ontem, se discutiu não a melhor forma de negociar com a direita, mas antes a mais rápida forma de a derrubar.

No encerramento da conferência das tendências socialistas na UGT e CGTP, onde se falou de concertação social, eleições antecipadas e de João César das Neves, Seguro definiu os três temas que considerou serem “um teste à verdadeira vontade do Governo para se atingirem compromissos”. Recordando os sucessivos “apelos ao consenso nas últimas semanas”, o líder do PS avisou que “só pode haver entendimento se houver propostas concretas”.

E, para Seguro, as cartas estavam já em cima da mesa. Exigiu a aprovação de propostas socialistas pela maioria na votação do Orçamento. “Serão duas, três, serão quatro?” questionou. Exigiu também abertura do Governo para as propostas do PS em relação ao IRC – em que o principal partido da oposição propôs uma redução para metade desta taxa para lucros até 12.500 euros, pelo menos. E, por fim, requereu a presença do Governo na mesa de negociação da concertação social para debater o salário mínimo nacional. “O Governo tem de dizer, com clareza, sim ou não”, exigiu.

Utilidade de negociar com a direita
O “desafio” para o consenso foi, no entanto, um discurso que ficou longe do tom que dominou o encontro. Antes da chegada do líder do PS, as intervenções centraram-se nos ataques ao economista César das Neves, na utilidade de negociar com a direita e na premência de eleições antecipadas.

Entre os sindicalistas, a combatividade suplantava o espírito de consenso. E foi o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, que – usando uma expressão por si utilizada – “abriu as hostilidades”. Logo no arranque da conferência, saudou a presença de sindicalistas da UGT e da CGTP na sala como o “primeiro passo” do “sobressalto cívico” exigido pelo ex-Presidente da República Jorge Sampaio. Silva queria os sindicatos, e não só, “na rua”. “Talvez hoje seja esse primeiro passo, o próximo dia 21 será outro”, gritou, por cima dos aplausos, sobre a segunda iniciativa de Mário Soares na Aula Magna. “Temos que ter a vontade de não ficar mudos e quedos”, afirmou, depois de referir o clima de medo instalado em Portugal.

E a tarde seguiu com intervenções duras. Francisco Fortunato questionou se se podia “fazer concertação social com estes delinquentes”, para depois dar a sua opinião. “A única coisa que este Governo tem de fazer é pedir a demissão e convocar eleições antecipadas. O que temos de pensar é como pomos esta gente a andar, o resto é choradinho”, defendeu o sindicalista antes de a sala irromper em aplausos.

Horas mais tarde, quando Seguro estava já na sala, o também sindicalista Manuel Martins faria a mesma pergunta: “Como é que os vamos tirar de lá?” Ninguém respondeu, e assim Martins deixou um recado a Seguro. “Vai ser o nosso próximo primeiro-ministro. Espero que revogue grande parte das malfeitorias que esta gente tem feito aos portugueses…”

Perseguir os trabalhadores
Pelo meio, denunciavam-se essas malfeitorias. Fernando Jorge, do Sindicato dos Funcionários Judiciais, acusou o Governo de, com as suas propostas, colocar a Justiça “ao serviço de alguns interesses”. Nomeadamente, para mais “facilmente se poder perseguir os trabalhadores”.

O líder do PS teve até de ouvir as queixas das bases socialistas sobre sapos que tinham engolido quando Seguro não estava ainda à frente do partido. “Espero que o PS oiça mais os trabalhadores e os sindicalistas socialistas. É que eu comecei a tomar óleo de fígado de bacalhau no PEC III”, desabafou Ângelo Pereira.

As reacções exaltadas tiveram ainda como alvo João César das Neves, devido à sua entrevista ao DN/TSF. Carlos Trindade chamou-lhe um “refinadíssimo reaccionário”. Carlos Silva rematou ao asseverar que o discurso do economista “podia caber perfeitamente no Estado Novo”.

O remate final do tom “assertivo” da conferência, como o classificou o líder da UGT, foi mesmo dado por Carlos Silva. Na sua última intervenção, foi buscar a lição da História da Alemanha de 1933. Lembrando a ditadura de Adolf Hitler e a forma como este destruíra as liberdades. “O primeiro ataque que fez foi aos sindicatos, assassinou todos os líderes dos sindicatos”, recordou, depois de garantir aos que falavam “mal” dos sindicatos que iam mesmo “ter de gramar” com as centrais.

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