Renamo diz que não vai andar aos tiros no dia das eleições

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Fernando Mazanga, 51 anos, é porta-voz da Renamo desde 2003 Nelson Garrido

A Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) não vai andar aos tiros durante as eleições, que boicota, mas não reconhecerá os órgãos que forem eleitos, disse ao PÚBLICO o porta-voz, Fernando Mazanga. “As pessoas estão à espera que a Renamo no dia 20 vá andar aí a disparar. Não. A Renamo tem muitos métodos de fazer política.”

“[Os presidentes de câmara e as assembleias municipais que forem eleitos serão] governos ilegítimos que não vamos reconhecer”, declarou, numa entrevista, na moradia da zona central de Maputo que serve de sede nacional ao segundo maior partido moçambicano e antigo movimento guerrilheiro.

“Não participando, a Renamo tirou brio às próprias eleições”, afirmou também o porta-voz do partido cujo líder, Afonso Dhlakama, está em lugar desconhecido desde que, há um mês, as Forças Armadas ocuparam a base de Satungira, província de Sofala, onde viveu no último ano.

“A Renamo não queria que houvesse eleições com a lei prevalecente”, afirma Fernando Mazanga, 51 anos, porta-voz da Renamo desde 2003. “É preciso que estanquemos o mal à partida.” Mais do que as autárquicas de hoje, o partido oposicionista tem em mente as legislativas e presidenciais de 2014, que pretende ver organizadas por órgãos eleitorais com uma composição diferente da actual, que considera favorecer a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder). “É verdade que todos queremos ganhar, mas temos de ganhar em processos limpos”, disse.

Mazanga afirma que Afonso Dhlakama mantém a “vontade de continuar a iluminar os moçambicanos, através do partido Renamo”, mas considera o convite do Presidente da República, Armando Guebuza, para um encontro a dois “um tanto ou quanto envenenado” por ocorrer depois de as forças do Governo “terem tentado matar” o líder oposicionista.

“Primeiro tem que se criar a segurança e a confiança e a partir daí vemos qual o espaço físico para o encontro”, afirmou como condição prévia para uma reunião entre os dois dirigentes. “A Renamo está disposta, está pronta e quer negociações. Mesmo durante os 16 anos de guerra não fazia a guerra pela guerra, mas para ter a paz, para ter a democracia multipartidária.”

Fernando Mazanga escuda-se na sua condição de porta-voz de um “partido político” para evitar falar sobre questões militares e em concreto sobre ataques ocorridos nas últimas semanas no centro do país e atribuídos à Renamo. “Não estou em condições de assumir nem de negar”, disse. Mais à frente, o porta-voz acusou o Governo de se estar a armar e disse que desde o acordo de paz, há 21 anos, não se “ouviu um tiro” de homens armados da Renamo. “Eles respeitaram o acordo de paz assinado em Roma, até que se viram atacados.”

Sobre a posição do MDM, único partido que, a nível nacional, concorre com a Frelimo, a Renamo entende que “se se sente satisfeito com aquela fórmula”, de uma comissão eleitoral dominada pela Frelimo, “pode ficar”. Fernando Mazanga afirma também que, nestas eleições, “a Frelimo pode até oferecer municípios só para dizer que a Renamo não tinha razão” ao boicotar as eleições.
 
 

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