Descoberto gene associado à asma nas crianças

Análise de genoma de mais de mil crianças com graves ataques de asma revela cinco genes com mutações associadas à doença, um dos quais desconhecido.

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A equipa estudou casos de asma em crianças entre os dois e os seis anos Daniel Rocha (arquivo)

Uma equipa de investigadores analisou o genoma de 1173 crianças com crise agudas de asma, que são obrigadas a recorrer ao hospital, para tentar identificar genes que estejam por trás desta crise. Os cientistas compararam mutações genéticas associadas à doença com o genoma de 2500 adultos e crianças sem a doença, e encontraram mutações em cinco genes que, nas crianças asmáticas, estão associadas ao problema respiratório. O trabalho vem explicado num artigo deste domingo da revista Nature Genetics.

“Os nossos resultados mostram que os ataques de asma de crianças pequenas que necessitam de ser hospitalizadas estão normalmente relacionados com a genética. Os genes têm um papel muito maior nas crianças com asma do que nos adultos”, defende em comunicado Klaus Bønnelykke, um dos investigadores e autor do estudo, que pertence à Universidade de Copenhaga, na Dinamarca. “O nosso estudo apoia a teoria de que a asma não é uma só doença, mas um complexo de várias doenças que deverão ser geneticamente mapeadas e devem ser compreendidas individualmente.”

A equipa serviu-se do sistema de saúde dinamarquês para realizar o trabalho. Primeiro, foi aos registros nacionais de saúde procurar por crianças entre os dois e os seis anos que foram obrigadas a ir mais do que uma vez ao hospital devido a crises graves asmáticas. Depois, os cientistas recorreram ao banco genético nacional dinamarquês para recolher amostras de ADN destas crianças.

De seguida, fizeram uma análise ao genoma para identificaram mutações de genes com fortes associações às crianças com asma. Os resultados que a equipa obteve estiveram de acordo com trabalhos anteriores. Quatro genes foram associados com este problema respiratório: GSDMB, IL33, RAD50 e IL1RL1. Mas, a equipa encontrou um quinto gene, que não estava até agora mapeado, o CDHR3.

Este gene é muito utilizado pelas células do epitélio, que compõem a superfície das vias respiratórias. O CDHR3 dá origem a uma proteína que fica localizada na membrana celular. “Os cientistas que estudam a asma têm vindo a estar cada vez mais interessados no papel do epitélio das vias respiratórias no desenvolvimento da asma”, diz, em comunicado, Hakon Hakonarson, pediatra pneumologista, um dos líderes da equipa, do hospital pediátrico de Filadélfia, nos Estados Unidos.

“Anomalias no epitélio celular podem tornar um paciente mais susceptível a que características ambientais provoquem uma resposta imunitária exagerada, fazendo com que as vias respiratórias reajam de uma forma exagerada. O CDHR3 está relacionado com uma família de proteínas envolvidas na adesão celular e na interacção entre células, é plausível que variações neste gene possam impedir o funcionamento normal destas células das vias respiratórias, tornando as crianças mais vulneráveis à asma”, sugere Hakon Hakonarson.

Segundo Klaus Bønnelykke, muitas crianças não respondem aos tratamentos contra a asma. O investigador espera que o mapeamento destes genes ajude à descoberta de medicamentos para estes casos: “Sabemos que as crianças expostas ao fumo têm um risco acrescido de sofrer um ataque de asma, mas para lá disso, nenhum dos nossos conselhos ajudam realmente, e não vamos fazer nenhum progresso até compreender os subtipos de asma que existem e os seus mecanismos fisiológicos subjacentes.”
 
 

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