Filipinas pedem que se lute contra as alterações climáticas

Enquanto o país está a tentar sobreviver aos efeitos de um tufão que poderá ter morto 10.000 pessoas, a delegada das Filipinas na Conferência do Clima em Varsóvia pede que se aja em conjunto contra as mudanças climáticas.

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Sobreviventes caminham na cidade devastada de Tacloban, na ilha de Leyte, nas Filipinas Erik De Castro/Reuters

A delegada das Filipinas pediu à comunidade internacional para passar à acção na luta contra as alterações climáticas, nesta segunda-feira, durante a abertura da Conferência do Clima das Nações Unidas, em Varsóvia, na Polónia, que termina a 22 de Novembro. O pedido acontece quando o seu país vive os efeitos devastadores do pior tufão de sempre que atravessou o arquipélago do Pacífico, na sexta-feira.

“De cada vez que voltamos a uma conferência [do clima], estamos a enfrentar uma nova catástrofe”, desabafou Alicia Ilaga, delegada das Filipinas. “Peço aos dirigentes do mundo que passem à acção em Varsóvia”, disse, numa conferência de imprensa. “Que outra coisa podemos pedir nesta conferência, senão que as negociações e os compromissos se transformem em acção?”, acrescentou a delegada, citada pela agência noticiosa AFP. “O meu país acaba de ser atingido por mais um tufão de categoria 5, estamos a contar os nossos mortos. Eles foram tragados por esta abominação da qual não temos culpa.”

Em Dezembro de 2012, na conferência do clima das Nações Unidas em Doa, no Qatar, as Filipinas estavam a reagir aos desastres causados pelo tufão Bopha, também de categoria 5, que arrasou a ilha de Mindanao e fez 1000 mortos. Desta vez, as ilhas de Leyte e Samar foram as que mais sofreram, apanhadas na rota do Hayan, um tufão com ventos superiores a 300 quilómetros por hora, que gerou uma sucessão de ondas com cinco metros de altura, no sábado de manhã. As vagas invadiram as ilhas, destruindo regiões inteiras. Estimam-se mais de 10.000 mortos, avança a AFP. Cerca de meio milhão de filipinos perderam tudo.


 

A preparar o pós-Quito
Em Varsóvia, estão reunidos responsáveis de 190 países, para duas semanas de discussão sobre o futuro do combate às alterações climáticas. “Reunimo-nos hoje, com o peso sobre os nossos ombros de várias realidades que nos obrigam a reflectir” como “o impacto devastador do tufão Haiyan”, disse Christiana Figueres, responsável pelo clima das Nações Unidas, às delegações do mundo inteiro.

“As próximas gerações serão obrigadas a enfrentar uma batalha imensa” e “o que está em jogo aqui, neste estádio, não é nenhuma competição”, defende a responsável, fazendo referência ao Estádio de Varsóvia, onde se realiza a conferência. “Não existem duas equipas, mas toda a humanidade. Não há um vencedor ou um vencido. Ou todos ganhamos, ou todos perdemos”, enfatizou, citada pela AFP.

A conferência de Varsóvia lança a discussão para um protocolo que vai tentar definir os limites das emissões de gases com efeito de estufa, para evitar que o aquecimento global aumente para lá dos dois graus Celsius, o tecto máximo que se considera mais benigno. Esse acordo, que terá de ficar pronto na conferência de 2015 em Paris, França, irá substituir o protocolo de Quioto, que está em vigor até 2020, mas que só se aplica aos países industrializados, com excepção dos Estados Unidos, Japão, Canadá e Rússia. Se nada for feito, estima-se que a temperatura média global possa subir cinco graus até ao final deste século, com os fenómenos meteorológicos extremos a multiplicarem-se.

Apesar da ligação entre as alterações climáticas e os tufões e furacões não estar completamente estabelecida, os cientistas defendem que o aumento de temperatura nos oceanos causará fenómenos mais extremos.

“Somos o segundo país do mundo mais vulnerável [às alterações climáticas]”, referiu Alicia Ilaga. “E, agora, estamos em Varsóvia. Está escuro, faz frio, mas no meu país também é triste, não é só aqui.”

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