“O jornalismo brasileiro não vai salvar o jornalismo português”, avisa Alexandra Lucas Coelho

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Alexandra Lucas Coelho Miguel Manso

A jornalista e escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, que vive no Brasil desde 2010, considerou neste domingo que “o jornalismo brasileiro não vai salvar o jornalismo português”, porque o sector também está em crise naquele país.

Em declarações à Lusa em Lisboa, à margem da conferência internacional O Regresso do Jornalismo, que encerra neste domingo, Alexandra Lucas Coelho afirmou que, apesar de no Brasil viverem quase 200 milhões de falantes de português, “não há interesse particular sobre o que passa no mundo”.

A jornalista deu como exemplo os três maiores jornais do país – O Globo, Estadão e Folha de São Paulo –, onde “a presença de notícias internacionais é diminuta”. O país, disse, é “muito voltado para dentro”. Para além disso, “o quadro no Brasil tornou-se muito o quadro do que está a acontecer por toda a parte”.

Há três anos, “havia um cenário muito optimista na imprensa brasileira, com os directores dos jornais a celebrarem crescimentos anuais de 30%”. Mas este ano “houve os primeiros grandes despedimentos em vários grandes jornais importantes, e algumas revistas fecharam. Há levas e levas de jovens jornalistas que saem das faculdades e não têm trabalho”.

“É verdade que o Brasil é a sexta economia do mundo, que é uma economia pujante, mas é também verdade que há enormes assimetrias, e as recentes manifestações trouxeram ao de cima muitas outras brechas e fissuras na sociedade brasileira, que são dramáticas e que vão para além de pobres e ricos, que têm que ver com as hierarquias sociais, autoritarismo da sociedade brasileira, repressão policial profunda, racismo”, disse.

Para a escritora, os trabalhos jornalísticos portugueses podem tornar-se interessantes para leitores brasileiros “da mesma forma que textos longos ou livros”, ou seja, “quando o que o que houver neles for único e tenha uma identidade tão específica que crie uma relação com aquele leitor”.

“Não passa tanto por uma informação quotidiana, mais rápida, por coisas mais curtas – porque isso o leitor brasileiro tem em qualquer lugar, [escrito em português do Brasil, de leitura] mais fácil para ele – mas pode passar por materiais mais complexos, mais densos, que lhe dêem realidades que ele não tem, com uma marca autoral forte, que pode fazer a diferença e trazer leitores brasileiros para o digital português”, concluiu.

Alexandra Lucas Coelho apresenta esta semana em Lisboa o seu livro Vai, Brasil, o terceiro que publica na colecção de Literatura Viagens da editora portuguesa Tinta da China.

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