Governador do BdP vê “indicadores positivos” em ajustamento feito “à vista” de todos

Carlos Costa defendeu que o actual processo de ajustamento "não é tão oneroso quanto se pretende dizer"

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Os "desentendimentos" e os "desequilíbrios resolvem-se à mesa", disse Carlos Costa Nuno Ferreira Santos

O governador do Banco de Portugal (BdP) destacou neste sábado "indicadores positivos" na economia portuguesa, apesar da dívida e do desemprego, num processo de ajustamento feito com a "distribuição de sacrifícios à vista" de todos, ao contrário dos anteriores.

Comparando com outras intervenções externas, em 1977/78 e em 1982/83, Carlos Costa defendeu que, actualmente, mesmo sem a ferramenta da desvalorização cambial do escudo, os portugueses já fizeram "um ajustamento maior” do que se julga.

"Temos indicadores muito positivos, quem vêm da balança corrente e de capital, da balança comercial, pela primeira vez desde há muitos anos positiva. Temos uma situação orçamental entre o vermelho e o amarelo porque temos uma dívida pública acumulada elevada e entrámos na zona positiva do saldo primário. Passámos a ter um excedente, o que demonstra que houve um ajustamento maior do que aquilo que se pensa", afirmou, durante a apresentação do "Contrato para o crescimento em Portugal", da Plataforma para o Crescimento Sustentável (PCS), em Lisboa.

O responsável do BdP defendeu que o actual processo de ajustamento "não é tão oneroso quanto se pretende dizer", relativamente à evolução dos salários reais e das prestações sociais, em termos reais, pois "a ilusão monetária em 77/78 e 82/83 foi um factor de anestesia e de resolução importante de um problema que a sociedade portuguesa não sabe resolver, que é a distribuição de sacrifícios".

"O único ponto que os diferencia é o facto de a distribuição de sacrifícios ser à vista e a outra [anterior] ser às escondidas, na medida em que a ilusão monetária levava a que todos tivessem a ideia de que mais tarde ou mais cedo recuperassem aquilo que estavam a perder", continuou.

Para Carlos Costa, "antes, cortava-se um braço e o anestesiante nominal levava a que ninguém se desse conta, se não muito mais tarde, de que o valor real da sua riqueza tinha sido significativamente afectado".

O governador do BdP defendeu ainda que os "desentendimentos" e os "desequilíbrios resolvem-se à mesa", perante os parceiros sociais e no Parlamento.

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