Libertados os dois portugueses que ainda estavam sequestrados em Moçambique

Já não há portugueses raptados.

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Os dois portugueses que ainda estavam sequestrados em Moçambique foram libertados pelos raptores na madrugada desta sexta-feira para sábado, confirmou ao PÚBLICO o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário. Em ambos os casos eram pessoas com cargos empresariais no país.

Segundo as informações de José Cesário, em nenhum dos casos houve violência ou foi necessária uma operação policial, sendo os portugueses libertados pelos próprios raptores. Um dos casos dizia respeito a uma mulher que tinha sido sequestrada no dia 5 de Novembro na Matola, cidade satélite de Maputo. Do homem há menos dados, mas segundo o secretário de Estado é um cidadão com mais de 50 anos que estava sequestrado desde dia 26 de Outubro, “pelo que o seu estado era mais debilitado”.

O rapto da cidadã portuguesa ocorreu no interior da empresa onde exerce funções de gestora financeira. As primeiras informações apontam para que o homem queira manter-se no país, até porque vive há muitos anos em Moçambique. Já a gestora financeira deverá regressar a Portugal.

A notícia chega um dia depois de a polícia ter conseguido deter em Maputo o alegado cabecilha de um dos principais gangs de sequestradores que actuavam também em Matola, avança o jornal A Verdade.

Na quinta-feira, um terceiro português de 17 anos, raptado há duas semanas no centro de Maputo, tinha sido libertado pelos seus captores, segundo avançou na altura o cônsul geral de Portugal em Moçambique, Gonçalo Teles Gomes. O jovem, que também tem a nacionalidade moçambicana, foi levado na zona do Bairro da Coop, no centro da capital moçambicana. Deverá sair do país em breve. Em Junho tinha sido raptado o primeiro português, também já libertado.

O Governo português tinha-se manifestado disponível para cooperar com as autoridades moçambicanas neste momento de tensão no país. Questionado sobre em que ponto estão essas negociações, José Cesário afirmou que “Portugal mantém total disponibilidade para cooperar” e garantiu que a proposta foi “muito bem recebida”. Mas lembrou que “como país independente cabe a Moçambique definir em que termos é feita a ajuda”, sublinhando que os acordos internacionais são sempre morosos e que podem envolver mais países – até porque, de momento, Portugal deixou de ter cidadãos em situação de rapto.

Grupos organizados mas também amadores
Sobre a insegurança sentida no país o secretário de Estado das Comunidades garantiu que dos 30 mil portugueses “estão a regressar apenas umas dezenas” a Portugal, sobretudo crianças, como relatou o PÚBLICO. Recusa, por isso, falar num regresso em massa, mas insiste que isso não significa que não sejam necessários cuidados redobrados para quem viaja para aquele país ou para quem está lá neste momento. Como termo de comparação, o governante disse que desde o início do ano só na Venezuela foram raptados e libertados 20 portugueses.

“O Governo português mantém na íntegra as recomendações de cautela que estão em vigor”, disse, assumindo que o risco de rapto é real. Questionado sobre que tipo de grupos estão por detrás destes actos, Cesário afirmou que “são sobretudo grupos organizados com um nível de profissionalismo muito elevado”, mas disse que, numa menor escala, há também casos de raptores com "muito amadorismo que levam as pessoas e pedem valores muito mais baixos”. O secretário de Estado escusou-se a comentar que tipo de negociação foi feita no caso dos três portugueses libertados e se foi exigido, ou pago, algum resgate. “Não posso confirmar”, reiterou.

Mudanças nos perfis de rapto
Os raptos de cidadãos ocorrem em Moçambique desde 2009, mas o fenómeno acentuou-se nos últimos meses, nos principais centros urbanos. A principal diferença é que agora também as mulheres e crianças estão a ser vítimas de sequestros, quando antes os alvos eram sobretudo empresários de sucesso entre a comunidade indo-paquistanesa. Os resgates, pagos ou não, atingiam as centenas de milhares de dólares. A maioria dos casos não chegava a ser tornada pública.

Já neste ano, as mulheres e os filhos de homens de negócios passaram também a ser alvos dos sequestradores e há relatos de que muitos dos raptores sejam elementos da polícia. Sobretudo nos últimos meses, os casos tornaram-se mais frequentes, violentos e flagrantes, com ataques e raptos em plena luz do dia a atingir crianças e outras comunidades como a moçambicana de raça negra e a portuguesa. Alguns gangs aparecem armados de espingardas AK-47.

O aumento da criminalidade e a situação política foram igualmente o mote de uma grande manifestação na semana passada. Paralelamente à onda de raptos, o centro de Moçambique vive uma grave instabilidade militar, devido a confrontos entre o Exército moçambicano e homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição.

Os empresários temem uma grave crise na economia do país e relatam um cenário de estradas quase desertas, com a circulação a ser feita quase em exclusivo por escoltas militares – que mesmo assim não têm escapado a ataques atribuídos à Renamo. Recentemente, a multinacional mineira anglo-australiana Rio Tinto aconselhou os familiares dos seus funcionários expatriados a saírem temporariamente de Moçambique, devidos à situação de insegurança.
 
 

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