"Camarate foi um acidente", diz Joaquim Vieira

Jornalista diz que nunca encontrou qualquer ligação entre o tráfico de armas e Camarate.

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Joaquim Vieira Miguel Dantas/Arquivo

“A minha convicção é que Camarate foi um acidente”, disse nesta quarta-feira Joaquim Vieira, perante os deputados da X comissão parlamentar de inquérito. O jornalista foi chamado a uma audição pelos artigos que escreveu no semanário Expresso nos anos 1980 sobre o tráfico de armas de Portugal para o Irão.

“Não vejo nenhuma ligação entre o tráfico de armas e Camarate, nas minhas investigações nunca surgiu um indício, uma pista”, assegurou Joaquim Vieira. “Nas minhas investigações, nunca me apareceu nada que tivesse a ver com Camarate”, reiterou. “A minha convicção é que Camarate foi um acidente”, sublinhou o jornalista.

As investigações sobre o tráfico de armas assinadas por Joaquim Vieira foram publicadas a partir de 1981, quando entrou para o Expresso, e até 1987, embora alguns dos episódios investigados fossem anteriores a Camarate. A queda do Cessna no qual viajavam o primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, e Adelino Amaro da Costa, ministro da Defesa, ocorreu na noite de 4 de Dezembro de 1980. Segundo algumas interpretações, a oposição de Amaro da Costa ao tráfico de armas e as investigações mandadas efectuar podiam estar na origem do atentado, que teria como alvo o então ministro da Defesa.

“No tráfico de armas, os governos fechavam os olhos para não fechar empresas, causar desemprego e provocar a crise no sector”, admitiu o jornalista: “Não tenho conhecimento de que houvesse autorização governamental.”

Após o fim de uma guerra colonial de três frentes, Portugal ficou com excedentes de material de guerra e, especialmente, de munições. Daí a necessidade de encontrar mercados. As investigações de Joaquim Vieira centraram-se não apenas na venda de armas para o Irão, mas também para a África do Sul, a América Latina e o Extremo Oriente. Este comércio violava embargos decididos pelas Nações Unidas, o que era torneado pela falsificação de certificados de destino. Foi assim que um lote de metralhadoras G3 exportadas para a África do Sul acabou nas mãos da UNITA.

O jornalista desconhecia a existência do Fundo Militar de Defesa do Ultramar, um “saco azul” que vigorou durante a guerra colonial e se manteve após o fim dos conflitos, mas admitiu que, nas fábricas de material, algumas do Estado, e nas sociedades intermediárias das vendas, figuravam como administradores e consultores oficiais das Forças Armadas.

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