Morreu o criador da série de espionagem SAS

Gérard de Villiers (1929-2013) escreveu duzentas novelas de espionagem protagonizadas por Malko Linge, príncipe austríaco e agente da CIA, mais conhecido por SAS, iniciais de Sua Alteza Sereníssima.

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Gerard de Villiers fotografado em sua casa, em Paris, em Setembro de 2007 AFP PHOTO PATRICK KOVARIK

O escritor francês Gérard de Villiers, um dos autores mais prolíficos da literatura de espionagem, morreu esta quinta-feira, aos 83 anos. Criador de Marko Linge, vulgo SAS, princípe austríaco e agente secreto ao serviço da CIA, Villiers escreveu, desde 1965, duzentas novelas protagonizadas por este seu herói, além de várias outras obras de diversa natureza, e calcula-se que tenha vendido mais de 100 milhões de livros em todo o mundo.

A notícia da sua morte foi dada pelo seu advogado, Eric Morain, e confirmada pela sua mulher, Charlotte de Viliers, que adiantou que o escritor não resistira à quimioterapia que lhe estava a ser administrada para combater um cancro no pâncreas.

Villiers gostava de conhecer pessoalmente o cenário das aventuras que fazia Marko Linge viver – geralmente recheadas com doses generosas de sexo e violência – e terá visitado 130 países.

Nos anos 70, situou uma das suas novelas no Portugal saído do 25 de Abril de 1974, Les Sorciers du Taje, obra que a editora Literal publicou em 1978 com o título Os Feiticeiros do Tejo. Há uma edição recente, intitulada A Revolução dos Cravos de Sangue, da Saída de Emergência, que publicou também o livro que Villiers dedicou à guerra civil angolana: Angola a Ferro e Fogo.

O autor passara recentemente alguns dias no Afeganistão, recolhendo material para Sauve qui Peut à Kaboul, o penúltimo livro da série SAS. O 200.º e último, La Vengenace du Kremlin, foi lançado poucos dias antes da sua morte.

Villiers teve ainda actividade relevante como editor e director de colecções populares de ficção policial e de espionagem. Definia-se a si próprio como sendo “resolutamente de direita, liberal, anti-comunista, anti-islamista e anti-socialista”, mas sempre afirmou que não tinham razão os que o acusavam de racismo.

Largamente ignorado pela crítica literária do seu país, mesmo a mais especializada no tipo de ficção que Villiers praticou, a sua reputação nunca esteve tão em alta como neste período final da sua vida, muito graças a um extenso artigo que lhe dedicou o prestigiado jornal americano New York Times. Escrito por um jornalista especializado em política internacional, Robert F. Worth, o texto, publicado no início deste ano e intitulado O autor de espionagem que sabe de mais, chama a atenção para a “espantosa fiabilidade” das informações contidas nas histórias de Villiers.

Um dos exemplos que Worth indica é o do livro Le Chemin de Damas, saído em Junho de 2012, no qual o autor descreve um golpe de estado na Síria secretamente apoiado pelos serviços secretos americanos e israelitas. Uma das cenas do livro, que identifica uma série de figuras pouco conhecidas do regime de Bashar-el-Assad, relata o ataque a um quartel-general próximo do palácio presidencial, que não só existe como veio de facto a ser atacado na actual guerra civil, numa operação em que, segundo Worth,  morreram várias “figuras de topo” do regime sírio.

Não era a primeira vez que Gérard de Villiers revelava aparentes dotes proféticos. Em Le Complot du Caire, lançado em 1980, encena o assassinato de Sadat às mãos de islamistas fanáticos. O presidente egípcio, como se sabe, foi assassinado em Outubro de 1981, num atentado perpetrado pela Jihad Islâmica egípcia. Mas também pode argumentar-se que quem escreve 200 novelas de enredo político tem uma razoável probabilidade de poder ocasionalmente antecipar a realidade.

Os livros da série SAS são vendidos em França nos aeroportos, supermercados ou bombas de gasolina, mais do que em livrarias tradicionais. O político socialista francês Hubert Védrine, consultor de Mitterrand e ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de Lionel Jospin, era um dos leitores de Gérard de Villiers . E garante: “A elite francesa diz que não o lê, mas todos o lêem”.

 
 
 

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