Portugueses queixam-se de escravatura e põem patrão francês em tribunal

Sindicalista fala em "É um tráfico organizado.

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O número de edifícios concluídos caiu 36,5% face a 2013 Genya Savilov/AFP

Três portugueses que vieram para França trabalhar sazonalmente para vinhas do sudoeste francês moveram uma acção contra a entidade empregadora, num caso que o sindicato classifica de "escravatura moderna".

"É um tráfico organizado com recrutadores que são mandados pelos empregadores franceses para ir recrutar mão-de-obra a Portugal", explicou à agência Lusa Magali Astruc, sindicalista da sindicato geral de trabalhadores (CGT) de Narbonne.Dois dos portugueses foram abordados em Portugal por um conhecido que alegava que o primo (também português) precisava de alguns trabalhadores sazonais para trabalhar em vinhas francesas.

"Fizeram-nos as promessas todas", disse à Lusa um dos portugueses.

As promessas previam um salário de 700 euros por mês, menos cerca de 400 euros que o ordenado mínimo francês, com comida e alojamento incluídos, por 35 horas de trabalho semanais.

O alojamento prometido era partilhado entre "dez adultos e duas crianças", numa casa com uma casa de banho, onde "só podiam tomar banho de dois em dois dias", explicou.

A trabalhar em França desde o dia 21 de Novembro do ano passado, em Abril, o patrão informou-os de que não teriam mais trabalho para os portugueses, comprometendo-se a pagar as horas extra trabalhadas, assim como as folhas de ordenado correspondentes.

“Chegámos a trabalhar vinte e quatro dias consecutivos, sem folgar, até cerca de dez horas por dia", tendo-lhes sido entregue "uma folha de ordenado com setenta horas enquanto trabalharam mais de duzentas", afirmou.

Posteriormente foram pagas as horas extra, num cheque de 30 mil euros, mas ainda sem folhas de ordenado em dívida. No entanto, quinze dias depois a entidade empregadora processou os trabalhadores por extorsão de fundos.

"Fizemos a negociação, estavam os patrões e os representantes sindicais e eles dizem que foram forçados a assinar um cheque, ninguém é forçado a assinar um cheque, eles sabiam que nós tínhamos feito aquelas horas, por isso é que pagaram", adiantou João.

A sindicalista explicou à Lusa que "em França é impensável trabalhar mais de quatrocentas horas por mês, e mesmo trabalhando as duzentas e cinquenta horas, se ele [o patrão] lhes passar as folhas de ordenado, prova que não declarou as horas dos funcionários aos organismos de protecção social".

Sem terem onde ficar e sem emprego, os trabalhadores precisam das folhas de ordenado que comprovam as horas trabalhadas e o montante recebido, de forma a conseguirem alugar uma casa e inscreverem-se no fundo de desemprego francês.

Desde Abril, que estão "numa casa emprestada até ao dia 15 de Dezembro", a partir dessa data não têm onde ficar, disse um dos portugueses.

"Viemos à CGT e foi a CGT que nos arranjou sítio para ficar, até hoje. Estamos sem direito ao desemprego, estamos sem trabalho, sem nada. Estamos numa situação difícil", explicou João.

Stéphane Cabée, advogado do vinicultor Jacques Tibie, implicado no processo, disse à agência francesa AFP que o seu cliente "não percebe o que lhe está a acontecer".

"Contratou, como todos os anos, portugueses, por terem dificuldade em encontrar outros trabalhadores que não sejam portugueses para trabalhar nas vinhas", declarou Stéphane Cabée à AFP.

Os portugueses aguardam decisão do tribunal que devia ter sido tomada até à passada quinta-feira, mas foi adiada até ao dia 14 de Novembro.

 

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