“Perturbações com Angola devem ser tratadas com prioridade”, diz Marques Guedes

Governo mantém estratégia de desdramatizar a situação, insistindo na relação histórica com o país africano.

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Luís Marques Guedes Daniel Rocha

Se há “perturbações”, mesmo que pontuais, na relação entre o Estado português e o angolano, elas devem ser “tratadas com a maior das prioridades”, defendeu esta quinta-feira o ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares.

Questionado pelos jornalistas no final do Conselho de Ministros sobre as declarações do ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, que disse que o Governo angolano deixou de considerar a cooperação com Portugal prioritária, preferindo o relacionamento com a China, Brasil e África do Sul, Luís Marques Guedes manteve o tom de desdramatização que já usara há uma semana sobre o mesmo tema das relações entre os dois países.

“São relações especiais, que têm um histórico e uma afectividade particulares entre os dois povos, que devem ser preservadas e que são prioritárias no âmbito daquilo que são as prioridades de todas as relações de Portugal e do Estado português com os estados de língua oficial portuguesa”, disse o ministro. Acrescentou ser “intenção do Governo não só manter como aprofundar permanentemente essas relações no âmbito da comunidade de países de língua oficial portuguesa”.

O governante defendeu que “são relações de excelência que o Estado português procurará sempre manter, resolvendo todas as questões que, pontualmente, possam surgir no percurso do aprofundamento dessas relações”. Perturbações que, mesmo que pontuais, “devem ser tratadas com a maior das prioridades e resolvidas como são sempre resolvidas as questões de interesse nacional”, realçou Luís Marques Guedes.

MNE estranhou declaração do ministro Georges Chikoti

Entretanto, fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros citada pela Lusa reafirma a “disponibilidade para reforçar a cooperação” por parte do Estado português, que espera ser “acompanhado” nesta intenção pelas autoridades angolanas, uma vez que “a cooperação política constitui um esforço necessariamente conjunto”.

O gabinete de Rui Machete garante que “o Governo português prosseguirá o seu trabalho com vista ao reforço dos vínculos entre Angola e Portugal”. Porém, admite que foi “com estranheza” que tomou conhecimento das declarações do ministro angolano Georges Chikoti. 

“O Governo português não alterou, nem altera, o seu empenhamento em continuar a desenvolver e a aprofundar o bom relacionamento com o Estado e o Governo angolanos, fundado em laços históricos que unem os dois povos e nos múltiplos interesses políticos, culturais e económicos que têm em comum”, acrescenta a nota do MNE enviada à Lusa.

Na mesma linha, o vice-presidente da comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros Carlos Alberto Gonçalves (PSD) defendeu que o relacionamento entre Portugal e Angola “não está comprometido” e que os povos dos dois países “têm vontade” de manter uma boa relação.

“A proximidade entre os dois países e as relações construídas ao longo do tempo levam-me a crer que o relacionamento deve manter-se ao melhor nível, para além de isso ser do interesse dos dois países”, defendeu.

Por seu lado, o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, mostrou-se “preocupado” com a tensão nas relações luso-angolanas, mas acredita que “a tempestade” vai acabar. “É irreversível que as relações entre Angola e Portugal voltarão ao nível normal. Preocupa sempre, é evidente”, disse.

Para José Severino, é “evidente que interessaria que as relações entre Angola e Portugal fossem as mais harmoniosas, mais promissoras, porque há interesses vitais entre as duas sociedades, entre pessoas, entre empresas”.

José Severino não reduz, todavia, as parcerias estratégicas a poucos países, porque Angola precisa de crescer. “A afirmação do senhor ministro (Chikoti) é um pertinente, mas casuística (...) Não se deve cingir a dois ou três países, e muito menos a meia dúzia. Angola precisa de parcerias estratégica com outros países e até já tivemos um sinal: o Produto Interno Bruto (em 2013) só cresceu 5 por cento e a previsão eram 7 por cento”, destacou.
 
 

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