Três milhões de pessoas com tuberculose ficam fora dos sistemas de saúde, alerta OMS

Organização Mundial de Saúde divulgou relatório sobre doença.

Foto
Nuno Ferreira Santos

Mais de oito milhões de pessoas terão adoecido com tuberculose em 2012, mas três milhões ficaram fora dos sistemas de saúde, problema que se agrava no caso da tuberculose multirresistente, com apenas um em cada cinco casos detectados.

O alerta é da Organização Mundial de Saúde (OMS), que divulga nesta quarta-feira o seu relatório anual sobre a tuberculose a nível mundial. No documento, a agência da ONU para a saúde reconhece que 56 milhões de pessoas foram tratadas com êxito desde 1995 e 22 milhões de vidas foram salvas no mesmo período.

O número de novos casos tem vindo a cair, o que permitiu alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) neste critério, e a taxa de mortalidade associada à tuberculose caiu 45% desde 1990, pelo que é possível alcançar os 50% previstos nos ODM.

No entanto, dos 8,6 milhões de novos casos estimados em 2012, apenas 5,7 milhões foram notificados aos programas nacionais de tuberculose, o que deixa uma em cada três pessoas doentes fora dos sistemas de saúde em todo o mundo, seja porque não foram diagnosticadas, seja porque foram diagnosticadas, mas não registadas.

O relatório alerta também que o número de pessoas diagnosticadas com tuberculose multirresistente, a forma da doença que resiste aos antibióticos, quase duplicou desde 2011, alcançando 94 mil em todo o mundo em 2012.

Só em 2012, 450 mil pessoas adoeceram com a forma resistente da doença.

No entanto, sublinha a organização, menos de uma em cada cinco pessoas que se estima terem aquela forma da doença foi detectada a nível mundial.

Segundo a OMS, 3,6% dos novos casos surgidos em 2012 e 20% dos casos preexistentes tinham tuberculose multirresistente, o que se explica com a reduzida taxa de tratamento: Apenas 48% das pessoas que tinham tuberculose multirresistente em 2010 foram tratadas com sucesso, enquanto a taxa de tratamento de todos os novos casos de tuberculose foi de 87% em 2012.

Acções prioritárias

No seu relatório, a OMS identifica cinco acções prioritárias, que incluem chegar aos casos que estão fora dos sistemas de saúde e abordar a tuberculose multirresistente como uma crise de saúde pública, mas também acelerar a resposta aos casos de tuberculose associada ao VIH, já que menos de 60% das pessoas com as duas doenças estavam a receber antirretrovirais.

A OMS apela também ao aumento dos financiamentos, sublinhando que só estão garantidos seis dos sete a oito mil milhões de dólares anuais (cerca de cinco milhões de euros) que se estima serem necessários para o combate à doença nos países de baixo e médio rendimento até 2015.

“São necessários aumentos, tanto no financiamento doméstico, como no financiamento internacional, para fechar a lacuna de dois mil milhões de dólares anuais em falta [1,4 milhões de euros]”, escreve a OMS no relatório, que apela ainda a uma rápida adopção de novos meios de diagnóstico, medicamentos e vacinas.

A tuberculose é uma doença infecciosa causada por uma bactéria e afecta normalmente os pulmões, mas também pode afectar outros órgãos. A doença transmite-se pelo ar quando os doentes afectados com a tuberculose pulmonar expelem a bactéria através da tosse, por exemplo.

Embora seja reduzida a proporção de pessoas infectadas com a bactéria que desenvolvem a doença, a probabilidade aumenta muito quando se trata de pessoas infectadas com o VIH.

Sem tratamento, as taxas de mortalidade são elevadas, mas a taxa de sucesso dos tratamentos foi, em 2010, de entre 85% e 87%.

Sugerir correcção
Comentar