Constitucionalista considera que corte nas pensões de sobrevivência será chumbado

A aplicação retroactiva da medida e a violação do princípio da confiança são algumas das questões levantadas por Bacelar Vasconcelos.

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O constitucionalista Bacelar Vasconcelos considerou nesta segunda-feira que o corte das pensões de sobrevivência e viuvez anunciado pelo Governo viola o princípio da confiança “de forma flagrante”, o que, nestes termos, torna provável que seja "chumbado" pelo Constitucional.

“Alterar retroactivamente as pensões de sobrevivência ou viuvez é ainda mais grave e implica uma retroactividade ainda mais ostensiva do que no caso dos pensionistas ou reformados que cumpriram todos os requisitos para obterem essa pensão e que têm sido também ameaçados e têm sofrido diminuições substanciais das pensões que lhes estavam atribuídas”, afirmou o constitucionalista, em declarações à agência Lusa.

“Nestes termos, parece-me altamente provável que esta medida venha a ser invalidada por violação de princípios de constitucionalidade”, referiu.

O ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social confirmou no domingo à agência Lusa a intenção de cortar, em 2014, as pensões de sobrevivência, quando acumuladas com uma segunda reforma, sem esclarecer qual o patamar mínimo a partir do qual será feito esse corte.

O facto de o corte ser feito apenas quando as pensões sejam acumuladas com uma reforma não diminui, segundo Bacelar Vasconcelos, a violação dos princípios constitucionais.

“A eliminação pura e simples deste benefício que está associado aos descontos que foram realizados (…) é, em sim mesma e independentemente de outras circunstâncias, uma violação retroactiva de compromissos que o Estado tinha assumido”, explicou.

Situação que não é alterada mesmo quando existam “condições que possam excluir a sua aplicação”, declarou.

De acordo com Bacelar Vasconcelos, essa condição de excepção “não altera o fundo da questão nem atenua [aquilo que é] uma violação do princípio da confiança de forma flagrante”.

A inconstitucionalidade prende-se ao facto de as pensões de sobrevivência e de viuvez se basearem em “situações consolidadas no passado e cuja atribuição se remete não a um gesto de bondade ou compaixão, mas sim no reconhecimento do conceito histórico-cultural em que as pensões de sobrevivência ou de viuvez são atribuídas”, concluiu.

Segundo o ministro Pedro Mota Soares, a medida permitirá ao Estado uma poupança de 100 milhões de euros e está a ser discutida como "condição de recurso" como a que já existe para os apoios sociais como o abono de família e o complemento solidário de idosos.

O ministro adiantou que a medida abrange beneficiários de pensões de sobrevivência na Caixa Geral de Aposentações e no regime geral da Segurança Social e assegurou que irá proteger os pensionistas com rendimentos mais baixos.

O Estado gasta 2700 milhões de euros em pensões de sobrevivência, prestações atribuídas a viúvas e viúvos para compensar a perda de rendimentos de trabalho resultante da morte do cônjuge.

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